Na passada segunda-feira, último dia de Outubro, comemorou-se o Dia Mundial da Poupança e o nascimento do bebé 7 mil milhões. Tratou-se de uma oportuna coincidência que só nos pode querer interpelar ainda com mais veemência sobre as incertezas e os desafios que reserva o futuro e sobre o que cada um de nós terá de mudar na sua vida para fazer face a uma crise global, que é económica, financeira, mas, também e sobretudo, ambiental. Por isso, inspirados por esta dupla comemoração, aproveitámos a segunda aula de Educação Ambiental, que decorreu nesse mesmo dia, para falar da necessidade urgente de alterarmos os nossos comportamentos enquanto cidadãos e consumidores, adoptando gestos simples que podem fazer toda a diferença. Dicas sobre como gerir um orçamento familiar ou sobre como podemos reduzir, desligar, reciclar e andar mais a pé e de bicicleta foram apresentadas e debatidas com a ajuda de exemplos do dia-a-dia e tendo em conta as experiências dos formandos. E para não ficarmos apenas pelas boas intenções, cada qual assumiu o compromisso, formalizado por escrito, de levar a cabo nas próximas 7 semanas um conjunto de boas práticas que representam mudanças, umas mais visíveis do que outras, face a hábitos instalados e que se traduzirão, esperamos!, na diminuição da pegada ecológica e na poupança de euros. Afinal, quer se queira quer não, a austeridade que nos força a abdicar de alguns dos nossos direitos que pensávamos adquiridos para todo o sempre é a mesma que nos pode ensinar a gerir melhor o orçamento familiar e a pôr regra nos nossos gastos. Afinal, a austeridade que nos impõe sacrifícios e retira regalias é a mesma que nos impele a mudar o nosso estilo de vida e a rever os nossos hábitos de consumo, propondo o regresso aos ideais de simplicidade, frugalidade e despojamento cultivados pelos gregos e romanos de há séculos atrás. Afinal, a austeridade que significa perda de rendimento e de conforto material é a mesma que nos convida a repensar a nossa relação com a natureza, patrocionando uma utilização sensata dos recursos do planeta, de que a agricultura biológica e a criação de hortas comunitárias constituem eloquentes exemplos. Esperar-se-ia que não fosse precisa uma crise económica e financeira para nos darmos conta dos problemas ambientais causados pela forma como utilizamos os recursos finitos da Terra. Mas, aqui chegados, talvez nos fique, para o futuro, algo desta provação, se ainda formos a tempo, como acreditamos, de salvar a consciência e o planeta.
Sobre o momento que estamos a viver não podiam ser mais lúcidas e actuais estas palavras de Sophia. É todo um Programa de Vida que aqui se revela:
"Dai-me a casa vazia e simples onde a luz é preciosa. Dai-me a beleza intensa e nua do que é frugal. Quero comer devagar e gravemente como aquele que sabe o contorno carnudo e o peso grave das coisas.
Não quero possuir a terra mas ser um com ela. Não quero possuir nem dominar porque quero ser: esta é a necessidade.
Com veemência e fúria defendo a fidelidade ao estar terrestre. O mundo do ter perturba e paralisa e desvia em seus circuitos o estar, o viver, o ser. Dai-me a claridade daquilo que é exactamente o necessário. Dai-me a limpeza de que não haja lucro. Que a vida seja limpa de todo o luxo e de todo o lixo. Chegou o tempo da nova aliança com a vida".
Não quero possuir a terra mas ser um com ela. Não quero possuir nem dominar porque quero ser: esta é a necessidade.
Com veemência e fúria defendo a fidelidade ao estar terrestre. O mundo do ter perturba e paralisa e desvia em seus circuitos o estar, o viver, o ser. Dai-me a claridade daquilo que é exactamente o necessário. Dai-me a limpeza de que não haja lucro. Que a vida seja limpa de todo o luxo e de todo o lixo. Chegou o tempo da nova aliança com a vida".
Sophia de Mello Breyner Andresen, inédito sem data
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