A RUA DAS HORTAS EXISTE MESMO. FICA SITUADA EM MOURA, NO BAIRRO DO SETE E MEIO.
ESTE BLOGUE É O DIÁRIO DE BORDO DA HORTA COMUNITÁRIA AÍ EXISTENTE. INICIALMENTE ASSOCIADA A UM PROJECTO DE FORMAÇÃO PARA PÚBLICOS DESFAVORECIDOS, COMO ESPAÇO DA COMPONENTE TECNOLÓGICA DO CURSO, A HORTA ENCONTRA-SE AGORA NUMA SEGUNDA FASE. NESTE MOMENTO, ACOLHE ALGUNS DOS FORMANDOS QUE MOSTRARAM VONTADE EM PROSSEGUIR A ACTIVIDADE PARA A QUAL FORAM CAPACITADOS E ESTÁ ABERTA A OUTROS INTERESSADOS EM ACEDER AOS RESTANTES TALHÕES DEIXADOS LIVRES. UNS E OUTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA GESTÃO COMUNITÁRIA DA HORTA, MEDIANTE A OBSERVÂNCIA DE UM REGULAMENTO E CONTRATO DE UTILIZAÇÃO. ESTE PROJECTO CONTA COM A ORGANIZAÇÃO DA ADCMOURA EM PARCERIA COM A CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA, NÚCLEO LOCAL DE INSERÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL, EQUIPA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR PROTOCOLO DE MOURA E CENTRO DE EMPREGO DE MOURA. TAL COMO ATÉ AQUI, ESTE É TAMBÉM O ESPAÇO PARA FALAR DE REGENERAÇÃO URBANA, AGRICULTURA BIOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Vivam as plantas!

Ontem, uma centena de alunos, professores e funcionárias da Escola do Sete Meio, e ainda alguns pais, estiveram na Horta Comunitária de Moura para celebrar o 4º Dia Internacional do Fascínio das Plantas, uma iniciativa organizada pela Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura, sob a égide da European Plant Science Organization. Pretexto para conversas e actividades práticas sobre temas naturalmente fascinantes!, como a comunicação das plantas, a importância das plantas na agricultura, produção de alimentos, saúde humana e conservação do meio ambiente, famílias de plantas, consociação e rotação de culturas, plantação e multiplicação de plantas, conservação do solo ou o ciclo da matéria orgânica.
Uma viagem bem animada pelos meandros do universo vegetal, a partir dos recursos da Horta "à mão de semear", que favoreceu o processo ensino-aprendizagem, abriu múltiplas possibilidades de trabalho pedagógico na sala de aula e contribuiu ainda para reforçar a relação entre a escola e a comunidade. No final, brindámos todos ao fascínio das plantas com uma infusão deliciosa de lúcia-lima cultivada na nossa Horta. Tchin-tchin! E vivam as plantas!
Nota: A informação constante dos cartazes foi retirada do livrinho Guia prático - Agricultura biológica, da nossa amiga Maria Mota (Centro de Educação Ambiental de Vale de Cambra). 















  

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Uma questão de oposição

A Capicua passou há dias pela rua das hortas, com a sua Mão Verdea propósito da celebração do Dia Mundial da Árvore e da Poesia. Trata-se de um livro-disco que usa rimas certeiras e bem ritmadas para falar sobre agricultura, alimentação, ervas aromáticas, consumo, ecologia, igualdade, liberdade, coisas do nosso tempo e outras intemporais, e que,«sendo para crianças, não se quer infantil!».
Neste sábado, a Capicua, o Pedro Geraldes, autor das músicas, e o resto da banda apresentaram a Mão Verde em Évora, numa noite que começou fresca mas que acabou por envolver e aquecer os corações dos que se deslocaram ao largo da Sé, miúdos e graúdos.
No final do concerto, durante a sessão de autógrafos, falei da nossa Horta à Capicua, sem suspeitar que ela também cuidasse de uma, que é só sua. Pensando bem, não se canta assim os significados de uma horta sem ter «terra nas unhas, terra no joelho, terra no vestido, terra no chapéu», sem ter, enfim, a "mão verde", tradução da expressão francesa, "avoir la main verte", que significa ter o dom de cuidar das plantas ou jeito para jardinagem.





«A minha horta
"Eu sei o que é que eu quero. Sei que não vou mais abrir mão da minha horta e do meu galinheiro. E isso não é uma questão de idade, é uma questão de oposição!” Dizia Elis Regina numa entrevista no início da década de 80, já depois de o ter cantado na sua “Casa no Campo”. Ora eu, além de ter assinado em baixo com uma canção-homenagem com o mesmo título no meu primeiro disco, assino em baixo novamente aqui, em jeito de declaração de amor.
Eu não bebo, não tomo drogas, não pratico boxe ou desportos radicais, não tenho compulsão pelo consumo, não tenho o hábito de dançar madrugada fora numa pista de dança, não sou fã de música psicadélica e, portanto, restam-me poucas outras coisas para servir de escape, gatilho para o êxtase ou simples descarga de adrenalina.
Eu gosto de dormir muito, ficar em casa a ver programas de política e de cuidar da minha horta. (Sou uma seca.) A adrenalina fica toda para o palco e o êxtase para os mergulhos no mar, para o momento em que encaixo a palavra certa na rima que estava em aberto e para os gelados italianos. De resto, gosto mesmo é da minha horta.
Tenho toda a noção de que esta associação entre agricultura e lazer pode parecer coisa de dondoca de primeiro mundo ou laivo de romantismo hippie, uma perspectiva totalmente urbano-açucarada, desenraizada da “vida real”, própria de quem nunca teve de encarar o extenuante trabalho no campo. Podemos até considerá-la uma agricultura pós-produtiva, já que a motivação para o trabalho não depende do resultado, na medida em que a subsistência também não. Mas a verdade é que além de ser um prazer, ensina-me muitas coisas importantes e reduz uma boa parte da minha pegada ecológica.
Ter uma horta, permitiu-me ter um compostor, onde deposito toda a matéria orgânica que sobra da cozinha (cascas de fruta, restos de vegetais, borras de café, guardanapos de papel...). Num processo do qual resulta um adubo riquíssimo para a terra e que reduz cerca de 40% do lixo doméstico que iria para incineração ou aterro. Faz diferença.
Ter uma horta, fez com que me reconectasse com as estações do ano, que aprendesse quais os produtos da época e quais as variedades que se dão melhor no nosso clima. Que valorizasse a biodiversidade e o imprescindível papel dos insetos polinizadores (num momento em que as abelhas se aproximam perigosamente da extinção). Que tivesse uma maior noção do esforço depositado nos ciclos produtivos e como dá trabalho produzir comida (num contexto em que estamos cada vez menos conscientes de tudo isso): no supermercado há sempre curgetes, há curgetes o ano inteiro (e até parece estranho que há anos ninguém sabia o que era uma curgete...).
Ter uma horta é um pretexto para estar ao ar livre, concentrada em tarefas físicas, durante horas, sem pensar em mais nada. É essencial para a minha higiene mental e ainda me dá saladas de borla!
E mesmo do ponto de vista coletivo, a agricultura urbana é importante. Ter hortas nas cidades, além de ser providencial para a alimentação de muitas famílias, tem muitas vantagens. Mantém, disponíveis e produtivas, superfícies permeáveis ao escoamento de águas, aproveita muita matéria orgânica que de outra forma era desperdiçada, garante espaços verdes mantidos a custo zero e de forma voluntária, pode ter um aproveitamento pedagógico e contribui para o regresso a um modelo de sustentabilidade que, parecendo novo, não é. As cidades do passado eram rodeadas de hortas. A proximidade entre produtores e consumidores foi sempre uma boa ideia! Além de nos poder salvar a vida.
Como nos EUA durante a Grande Depressão, ou na Alemanha do pós-guerra (com hortas no Central Park, no Tiergarten e onde fosse possível). Como em Havana, nos primeiros anos de embargo ou, mais recentemente, na Detroit pós-industrial.
Decididamente, estou com Elis: não vou abrir mão da minha horta. E não é só por uma questão de prazer, é mesmo uma questão de oposição!»

Capicua