A RUA DAS HORTAS EXISTE MESMO. FICA SITUADA EM MOURA, NO BAIRRO DO SETE E MEIO.
ESTE BLOGUE É O DIÁRIO DE BORDO DA HORTA COMUNITÁRIA AÍ EXISTENTE. INICIALMENTE ASSOCIADA A UM PROJECTO DE FORMAÇÃO PARA PÚBLICOS DESFAVORECIDOS, COMO ESPAÇO DA COMPONENTE TECNOLÓGICA DO CURSO, A HORTA ENCONTRA-SE AGORA NUMA SEGUNDA FASE. NESTE MOMENTO, ACOLHE ALGUNS DOS FORMANDOS QUE MOSTRARAM VONTADE EM PROSSEGUIR A ACTIVIDADE PARA A QUAL FORAM CAPACITADOS E ESTÁ ABERTA A OUTROS INTERESSADOS EM ACEDER AOS RESTANTES TALHÕES DEIXADOS LIVRES. UNS E OUTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA GESTÃO COMUNITÁRIA DA HORTA, MEDIANTE A OBSERVÂNCIA DE UM REGULAMENTO E CONTRATO DE UTILIZAÇÃO. ESTE PROJECTO CONTA COM A ORGANIZAÇÃO DA ADCMOURA EM PARCERIA COM A CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA, NÚCLEO LOCAL DE INSERÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL, EQUIPA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR PROTOCOLO DE MOURA E CENTRO DE EMPREGO DE MOURA. TAL COMO ATÉ AQUI, ESTE É TAMBÉM O ESPAÇO PARA FALAR DE REGENERAÇÃO URBANA, AGRICULTURA BIOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Figos lampos

Uma coisa boa do Verão? A figueira da horta carregada de figos reis de Olivença. De Junho a Setembro, desfaz-se ela em frutos arreganhados, com pérolas de mel, e desfazemo-nos nós, compulsivos apreciadores, em delíquios de prazer. A abrir a temporada, os figos lampos, grados mas esparsos, para pelar e comer frescos. No termo da estação, os figos vindimos, miúdos e em cachos, mais indicados para secar numa esteira de canas e guardar com essências de funcho.  
Por isso mesmo, com Agosto à porta, há que aproveitar os últimos lampos, sem deixar de saborear a magia das manhãs frescas passadas entre as ramagens da figueira. 
E quando já não se vai lá em bicos de pés, resta a cana aberta em forma de roca para alcançar os figos mais distantes. A mesma cana que pode servir para esgrimir com os atrevidos papa-figos, apesar de pouco adiantar: - Viste lo abade? - Lá o vi, lá o vi. - Com'ia vestido? - Ia com'a mi. - Comeste-los figos? - Pois comi, comi! 
Em breve, o tempo dos figos passará o testemunho ao tempo das uvas. Os papa-figos rumarão para latitudes mais a sul e nós iniciaremos também uma longa travessia a suspirar por essas manhãs luminosas. Até que venha outra vez Junho apaziguar a fome de figos frescos.

  "De repente uma das irmãs do cónego perguntou-me em voz trémula:
     - Gosta de figos lampos?
     - Sim, minha senhora, muitíssimo.
     - Por causa deles o fizemos esperar - ajuntou outra.
     - Nós é que os fomos apanhar ao quintal com as nossas lanternas - observou a terceira.
     E cada uma por seu turno:
     - Apanhados de noite são mais frescos.
     - E mais gostosos.
     - Os figos lampos!
     - Os figos lampos!
     - Os figos lampos!
     Cada uma delas repetiu, soluçando:
     - Os figos... lampos... - e depois, à uma, em desatado choro:
     - O que a nossa mãezinha gostava deles!...
     Aqui interveio Monsenhor, lacrimoso também:
     - A nossa boa mãezinha... já... lá...está... já morreu!
     - Não morreu... não morreu... - protestaram elas com ruidoso pranto.
     - Morreu e já... não... come... figos... lampos...
     - Ai! não diga isso, mano, não diga isso...
     - Nós já vamos ver... se morreu...
     - Vamos lá...
     - Vamos lá...
     E as três senhoras levantaram-se e, em gritos feridos, sumiram-se nas trevas do corredor, deixando-me mudo de verdadeiro espanto.
      Mas eu sentia fome e como o cónego recaísse em modorra - sem dar outro acordo de si além do febril movimento dos dedos que enfiava e soltava dos buracos da cadeira - pensei que ao menos havia de provar os tais figos lampos, causadores de tão excruciantes recordações.
     Apalpei no montão, escolhi aquele que me pareceu mais maduro, pelei-o e quando o levava à boca, para que Monsenhor não reparasse tanto na minha sem-cerimónia, digo-lhe:
      - E a mãe de V.Exa. morreu de muita idade?
      - Morreu de... uma cólica... a pobrezinha...
      - Há quantos anos?
      - Morreu hoje... hoje... às duas da tarde...
      - Ó demónio! - soltei eu involuntariamente, deixando cair o figo no chão. - E já se enterrou?
      - Não senhor... Está lá dentro com as visitas... Quer o meu... amigo vê-la... e rezar-lhe um padre-nosso...e uma... avé-maria por alma?...
      - Decerto... E logo sairei em busca de outra pousada, pois compreendo muito bem como deve ser importuna a V.Exas. a minha estada aqui...".

Manuel Teixeira Gomes, "Gente singular" in Gente singular (livro de contos), publicado originalmente em 1909 (3ª edição, Portugália Editora, 1959). Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), natural de Portimão, trocou um curso de Medicina quase concluído pelas viagens pelo mundo, do Norte da Europa a África, do Mediterrâneo à Ásia, enquanto representante da empresa de exportação da família, que haveriam de reflectir-se numa obra literária inovadora e cheia de ironia. Antes de se fixar na Argélia, onde acabaria por morrer, foi Presidente da República entre 1923 e 1925. 



















quarta-feira, 10 de julho de 2013

Cal viva

A ADCMoura - Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura convida todos/as os/as utilizadores/as da Horta Comunitária de Moura (e todos/as os/as interessados/as) a participarem na caiação do muro e do tanque no dia 20 de Julho, sábado, a partir das 6 horas (para aproveitar o fresco da manhã). Só é preciso trazer de casa um pincel e um recipiente para a cal, que será preparada durante esta semana e ficará a estagiar até ao dia da caiação. Convém ainda vir prevenido/a com luvas e roupa própria para a tarefa. Contamos consigo para tornar a Horta um lugar ainda mais bonito e aprazível. A sua participação é importante! 



Há 2 anos foi assim...