A RUA DAS HORTAS EXISTE MESMO. FICA SITUADA EM MOURA, NO BAIRRO DO SETE E MEIO.
ESTE BLOGUE É O DIÁRIO DE BORDO DA HORTA COMUNITÁRIA AÍ EXISTENTE. INICIALMENTE ASSOCIADA A UM PROJECTO DE FORMAÇÃO PARA PÚBLICOS DESFAVORECIDOS, COMO ESPAÇO DA COMPONENTE TECNOLÓGICA DO CURSO, A HORTA ENCONTRA-SE AGORA NUMA SEGUNDA FASE. NESTE MOMENTO, ACOLHE ALGUNS DOS FORMANDOS QUE MOSTRARAM VONTADE EM PROSSEGUIR A ACTIVIDADE PARA A QUAL FORAM CAPACITADOS E ESTÁ ABERTA A OUTROS INTERESSADOS EM ACEDER AOS RESTANTES TALHÕES DEIXADOS LIVRES. UNS E OUTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA GESTÃO COMUNITÁRIA DA HORTA, MEDIANTE A OBSERVÂNCIA DE UM REGULAMENTO E CONTRATO DE UTILIZAÇÃO. ESTE PROJECTO CONTA COM A ORGANIZAÇÃO DA ADCMOURA EM PARCERIA COM A CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA, NÚCLEO LOCAL DE INSERÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL, EQUIPA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR PROTOCOLO DE MOURA E CENTRO DE EMPREGO DE MOURA. TAL COMO ATÉ AQUI, ESTE É TAMBÉM O ESPAÇO PARA FALAR DE REGENERAÇÃO URBANA, AGRICULTURA BIOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Poesia na horta

Perfeito, perfeito, teria sido celebrar no próprio dia, o dia da árvore e da floresta, o dia mundial da poesia, o dia em que começa a Primavera. No entanto, vários tipos de compromissos assumidos anteriormente por um e outro utilizador da horta acabaram por não o permitir. Menos mal, mudou-se a celebração para o dia seguinte; mas a previsão de chuva para a tarde, algo a que não estávamos habituados este ano, diga-se de passagem, levou-nos a alterar uma vez mais os planos. Um novo convite seguiu então com a nova proposta de data: 5 de Abril. E à terceira fez-se finalmente a festa, envolvendo hortelãos e familiares dos ditos, ou seja, com a Paula, a Magda, a Rosa, a Elisabete, o Miguel, o João, o Filipe, o sr. António, a D. Isalinda e o Joaquim, que fez o favor de trazer o acordeão. Antes da música entrar em cena a acompanhar a récita de poesia, trocaram-se impressões sobre o presente e o futuro da horta, o que falta fazer e quem fica responsável, falou-se de tarefas colectivas, de gestão comunitária, de participação cívica, acordou-se até construir e partilhar uma plataforma de comunicação usando a internet. Conversados sobre objectivos, metas a atingir e coisas afins, que a alguns cheiraram a modernices, o Joaquim abraçou-se então ao acordeão, num corpo a corpo ritmado que preparou caminho para a palavra dita, na sua forma mais pura. E disseram-se tantas e tão belas palavras, que o apetite sobreveio num crescendo até se tornar incontrolável.   O que vale é que toda a gente veio prevenida, com vinho, pão, queijo e linguiça no alforge. Por acaso, a ninguém ocorreu ler "A defesa do poeta", mas pensando bem nada teria sido mais apropriado do que o poema de Natália Correia, quando diz que "a poesia é para comer". Comamos então estas duas romãs em forma de poema ou estes dois poemas em forma de romã, afinal duas formas únicas de olharmos as romãzeiras da nossa horta.

Fala a romãzeira:
As minhas folhas são como os teus dentes
os meus frutos como os teus seios.
Eu, o mais belo dos frutos,
Estou presente em cada tempo que fizer, em todas as estações.
Tal como o amante junto da amada para sempre,
Ébrio de shedeh e vinho.

Todas as árvores perdem as folhas, todas
Excepto a romãzeira.
Eu sozinha em todo o jardim não perco a beleza,
Permaneço firme.
Quando as minhas folhas caem,
Outras folhas nascem dos botões.

Sendo a primeira entre os frutos
Exijo que essa posição seja reconhecida,
Não aceitarei um segundo lugar.
E se houver de novo algum insulto
Não haveis de ouvir dele o seu final.  

Egipto (1567-1085 a.C.)

As Romãs

Duras romãs entreabertas
Pelo excesso dos grãos de ouro,
Eu vejo reis, todo um tesouro
Nascer de suas descobertas!

Se os sóis de onde ressurgis,
Ó romãs de entrevista tez,
Vos fazem, prenhes de altivez,
Romper os claustros de rubis,

E se o ouro seco cede enfim
Ante a demanda ainda mais dura
E explode em gemas de carmim,

Essa luminosa ruptura
Faz sonhar uma alma que há em mim
De sua secreta arquitectura.

Paul Valéry (1871-1945) 

Nota: Esta iniciativa é parte integrante do projecto "Eu participo! Moura também é comigo - Espaço de Participação Cidadã / Moura: Cidade e Território", que se insere no Plano de Acção "Regeneração Urbana do Centro Histórico de Moura (Regulamento Política de Cidades - Parcerias para a Regeneração Urbana)".
Esta iniciativa é também a primeira de um total de vinte para comemorar os 20 anos da ADCMoura (1993-2013). 



Estão todos convidados.


A mesa posta, porque a poesia é para comer.


Aproximem-se que a festa vai começar.


Uma moda para aquecer o ambiente e as gargantas.


O sr. António atirando-se a um fado como ninguém.


Agora a cantoria já é outra.


Um poema feito de propósito para a ocasião.