A RUA DAS HORTAS EXISTE MESMO. FICA SITUADA EM MOURA, NO BAIRRO DO SETE E MEIO.
ESTE BLOGUE É O DIÁRIO DE BORDO DA HORTA COMUNITÁRIA AÍ EXISTENTE. INICIALMENTE ASSOCIADA A UM PROJECTO DE FORMAÇÃO PARA PÚBLICOS DESFAVORECIDOS, COMO ESPAÇO DA COMPONENTE TECNOLÓGICA DO CURSO, A HORTA ENCONTRA-SE AGORA NUMA SEGUNDA FASE. NESTE MOMENTO, ACOLHE ALGUNS DOS FORMANDOS QUE MOSTRARAM VONTADE EM PROSSEGUIR A ACTIVIDADE PARA A QUAL FORAM CAPACITADOS E ESTÁ ABERTA A OUTROS INTERESSADOS EM ACEDER AOS RESTANTES TALHÕES DEIXADOS LIVRES. UNS E OUTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA GESTÃO COMUNITÁRIA DA HORTA, MEDIANTE A OBSERVÂNCIA DE UM REGULAMENTO E CONTRATO DE UTILIZAÇÃO. ESTE PROJECTO CONTA COM A ORGANIZAÇÃO DA ADCMOURA EM PARCERIA COM A CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA, NÚCLEO LOCAL DE INSERÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL, EQUIPA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR PROTOCOLO DE MOURA E CENTRO DE EMPREGO DE MOURA. TAL COMO ATÉ AQUI, ESTE É TAMBÉM O ESPAÇO PARA FALAR DE REGENERAÇÃO URBANA, AGRICULTURA BIOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Insecticida e sabão bio

Na semana passada recuperámos uma receita de outros tempos para obter insecticida e sabão bio, à base de azeite.
Para além de azeite lampante (azeite de acidez elevada que deve o nome à sua utilização na iluminação antes da descoberta da electricidade), juntámos, numa vasilha de plástico, potassa, cinza vegetal e água do tanque com o seguinte traço: 6 litros de azeite (em alternativa podem ser usadas borras de azeite), 1 quilo de cinza, 1 quilo de potassa e 4 a 6 litros de água.
Mexemos a solução sem parar durante mais de meia hora até conseguirmos um líquido meio pastoso para ser usado no combate a pragas, na proporção de uma parte de insecticida para quinze de água. 
Continuando a mexer durante mais algum tempo, em que se acentuou a reacção química (saponificação a frio), transformámos a mistura inicial numa pasta cada vez mais consistente, como se fosse chantilly, e, finalmente, em sabão sólido, pronto para ser cortado em pequenas barras.   


O Jonas e o Jorge no seu tirocínio de saboeiros


O aspecto da miscelânea


Chato (ou chata) como a potassa

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A escola vai à horta

Ontem, a Escola e o Jardim de Infância do Sete e Meio e a Escola do Fojo saíram por momentos das suas fronteiras habituais e desceram à horta para uma aula diferente que cativou a atenção e despertou a curiosidade de cerca de uma centena de crianças acompanhadas pelos seus professores. Acreditamos que todas levaram consigo experiências marcantes, diferentes do habitual, que as ajudarão a crescer e a compreender melhor o mundo em que vivem. Por mais que se invente e reinvente na pedagogia, nada substitui o estar cara-a-cara com umas ervilhas, um tanque de rega com peixes e uma pilha de compostagem, ou não fosse "a experiência a madre de todas as cousas". Neste como noutros sentidos, a Semana da Comunidade Educativa, que decorre por estes dias em todo o concelho de Moura e na qual este evento se integra, tem sabido contribuir, ano após ano, com lançamentos renovados de sementes que, esperamos todos, possam vir a germinar no futuro.   


Não tarda estamos a entrar na horta.


Agora que já entrámos vamos poder perceber algumas coisas sobre a horta: quem está a fazer a horta?, para que serve a horta?, o que podemos cultivar na horta? etc, etc., etc.


Vamos lá saber então onde estão as favas, e as ervilhas, e os alhos, e as couves e os espinafres? 


Se se voltarem para trás, vêem muitas plantas aromáticas nesta ribanceira, que servem para afugentar as pragas nocivas à horta e atrair os insectos amigos que ajudam na polinização. 


Ena tantos que nunca tinham visto alfaces roxas. Devem ter andado distraídos...


E agora imaginem como serão os bichos que trabalham dentro desta pilha de compostagem... Principalmente muito simpáticos por nos ajudarem a decompor todo este material vegetal que, no final, servirá para alimentar as nossas plantas.


Eis um copo de chorume de urtiga, uma "bebida" feita na horta a pensar na alimentação das nossas plantas. É verdade que cheira muito mal, mas é 100% natural, sem corantes nem conservantes.  


E, para terminar, os novos inquilinos da horta: um casal alternativo de espantalhos feitos pelos alunos do Jardim de Infância e da Escola Básica do Sete e Meio. Parabéns pelo gesto que tiveram e pela produção destas duas obras-primas a partir da reutilização de vários tipos de resíduos.  A horta e o ambiente agradecem!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O solo em análise I


A recolha de amostras de solo é fundamental para avaliar a fertilidade de um terreno agrícola e com isso identificar eventuais medidas correctivas que garantam maior produtividade e benefício financeiro. Como não podia deixar de ser, também na nossa horta recorremos a este procedimento, recolhendo em cada uma das duas parcelas uma pequena porção de solo capaz de ser o mais representativa possível numa análise química. Para o efeito, usámos uma enxada, uma colher de pedreiro, um balde e um plástico bem limpos de qualquer resíduo que pudesse influenciar o resultado final. 
Em cada parcela o terreno foi percorrido em ziguezague, tendo sido recolhidas perto de uma dezena de amostras (as chamadas amostras simples) em diferentes pontos. Cada uma destas amostras, com 2 a 3 centímetros de espessura e retirada de uma cova a uma profundidade de 20 centímetros para dentro do balde, foi depois vazada sobre o plástico. As várias amostras simples foram em seguida misturadas e passadas a "pente fino" para identificar pedras indesejáveis, criando-se no final uma amostra composta, de cerca de 1 quilo, acondicionada num saco de plástico acompanhado de etiqueta mencionando data e local da colheita, pronta a seguir para o laboratório.

O solo em análise II


As plantas são seres vivos que, para além da água, necessitam de alimento para se reproduzirem, crescerem e manterem saudáveis. No caso das plantas, os nutrientes estão dissolvidos na terra e são absorvidos através das raízes. São treze os elementos químicos essenciais para a sobrevivência de todas as plantas. Nos macronutrientes, absorvidos em grande quantidade, temos o azoto (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (MG) e enxofre (S). Quanto aos micronutrientes, necessários em muito menores quantidades, encontramos o ferro (Fe), zinco (Zn), manganésio (Mn), boro (B), cobre (Cu), molibdénio (Mo) e o cloro (Cl).
Vem esta explicação prévia  a propósito dos resultados laboratoriais das duas amostras de solo que enviámos para análise. Conclui-se a partir da leitura dos dados quantitativos que o solo da horta apresenta uma textura média, um teor médio de matéria orgânica (M.O.) e uma capacidade de troca catiónica (CTC) elevada, bem como uma presença acentuada de carbonatos, maioritariamente constituídos por cálcio (calcário a muito calcário) e um ph pouco alcalino, revelando, no entanto, um grau de saturação em magnésio que se torna limitante. Estes dados são consistentes com a análise textural de campo e observação empírica realizadas no terreno, bem como com os substratos carbonatados e dolomites presentes nesta região. 
Estamos assim perante um solo rico em macro e micronutrientes e elevada CTC, acompanhada de um teor apreciável de M.O., que permite estabelecer complexos argilo-húmicos estruturantes do perfil do solo e essenciais ao desenvolvimento de raízes, circulação de água, desenvolvimento de reacções aeróbias pelos microrganismos presentes no solo, resistência à compactação, entre outros aspectos.
Por sua vez, o excesso de magnésio no solo provoca perda de azoto pela formação de nitrato de magnésio, altamente lixiável no solo, competição com o potássio na absorção pela planta, diminuição da floculação do solo, compactação e maior adesividade do solo. Estas características foram, de resto, observadas aquando das primeiras chuvas em Novembro passado, constatando-se um solo pegajoso e com alguns problemas de drenagem por lentidão na infiltração de água.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Poção mágica

Felizmente que as imagens ainda não incluem cheiro, pelo menos no que diz respeito a estas recolhidas ontem na nossa horta; caso contrário, não sei se conseguiríamos ficar a escrever muito mais e ter alguém desse lado a ler o muito pouco que até agora foi escrito neste post.
Seja como for, a culpa é toda do chorume de urtiga, uma solução em que o adjectivo fétido só peca por não dar conta da real e insuportável  situação experienciada (pois continua a ser apenas uma imagem sem cheiro); e no entanto, quando explicadas as suas propriedades e beneficios, se revela inesperadamente uma autêntica poção mágica, por sinal muito em voga entre os adeptos da agricultura biológica, capaz de estimular o crescimento das plantas e de as proteger de diversas maleitas.
O processo para a obtenção do preparado de cor escura e odor desagradável a que chamamos chorume, e que resulta de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos orgânicos,  começou a semana passada com a colheita de urtigas frescas nas redondezas da horta, tarefa que exigiu a utilização de luvas grossas e de mangas compridas, tendo as plantas sido colocadas dentro de um saco de rede e este dentro de um bidão de plástico. Por cada quilo de urtigas foram adiccionados vinte litros de água do tanque. Na próxima semana, a maceração deverá ficar concluída e por isso em condições de ser coada e guardada para utilizações futuras, quer como fertilizante quer como insecticida cem por cento biológicos. No primeiro caso, a aplicação deverá ser feita numa proporção de uma parte de chorume para dez de água. No segundo caso, numa proporção de uma parte de chorume para cinco de água. O pulgão e a mosca branca é que não vão achar piada nenhuma a este arsenal de guerra muito pouco convencional.



Se as imagens tivessem cheiro...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O método da "vara de madeira" de Suriawiria

Para avaliarmos a evolução da pilha de compostagem vamos utilizar o método da "vara de madeira". Este procedimento encontra algumas semelhanças com a utilização, nos automóveis, da vareta de metal que permite verificar o nível e a qualidade do óleo do motor. O método referido foi apresentado pelo indonésio Unus Suriawiria (1968) e consiste em colocar uma vara de madeira, de forma permanente, na pilha de compostagem, deixando-a  não totalmente enterrada para possibilitar o seu manuseamento sempre que necessário. A observação periódica da vara e dos diferentes aspectos que apresenta permite tirar informações sobre como se está a processar a compostagem. Isto é, se:
  1. A vara está fria e molhada: há excesso de água e podem estar a ocorrer fermentações em condições de anaerobiose.
  2. A vara está morna e seca, com restos de fungos: a pilha precisa de água.
  3. A vara está quente, húmida e com manchas escuras: a pilha encontra-se em condições correctas, esperando-se uma boa evolução do processo de compostagem.
  4. A vara está livre de manchas, espetando-se na pilha com facilidade: o composto está maduro e pronto a ser usado.
No controlo realizado na sexta-feira, constatámos que a vara apresenta as características da alínea 3, o que constitui um bom sinal para podermos ter composto de qualidade dentro de algum tempo.  




terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Balanço do Dia Aberto dedicado às PAM

Cerca de 160 pessoas estiveram presentes no Dia Aberto sobre Plantas Aromáticas e Medicinais (PAM) na Universidade de Évora, no passado dia 14 de Dezembro. 
Resultante de uma organização conjunta do ICAAM – Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (Departamento de Fitotecnia) da Universidade de Évora e da ADCMoura - Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura, com o apoio do projecto MEDISS – Mediterranée Innovation Senteurs Saveurs (Programa MED, FEDER), o evento contou com a participação de produtores e investigadores numa reflexão sobre as relações entre a Universidade e os agentes económicos ligados à produção e transformação de Plantas Aromáticas e Medicinais, tendo em vista o desenvolvimento da fileira no Alentejo e no País. 
E foi de norte a sul de Portugal que rumaram à Herdade da Mitra, pólo da Universidade de Évora, dezenas de pessoas interessadas no tema, sobretudo na perspectiva de futuras investidoras.
Foi a estas que, num primeiro painel dedicado à PRODUÇÃO, os produtores convidados fizeram questão de apresentar os principais pontos fortes e fracos do negócio e em particular os desafios que se colocam actualmente aos que decidem avançar com a sua iniciativa empresarial, onde se destacam o elevado investimento inicial e a capacidade para realizar uma procura permanente de mercados e compradores a um nível internacional. 
Foram apresentadas as experiências do Cantinho das Aromáticas, sediado em Vila Nova de Gaia, e, pelo Alentejo, do Monte do Menir, da Vitacress, da Ervitas Catitas e da Aromacticland.
Um segundo painel seria dedicado à INVESTIGAÇÃO, onde foram destacados os principais usos industriais das plantas aromáticas e medicinais, aspectos ligados à protecção integrada na sua produção e interessantes resultados de diversos estudos que podem fornecer orientações de relevante interesse para futuras produções e produtos. Intervieram nestas apresentações investigadores do INRB – Instituto Nacional dos Recursos Biológicos, da Escola Superior Agrária de Santarém, do CEBAL – Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-alimentar do Baixo Alentejo e Litoral e do ICAAM.
A abrir o Dia Aberto, a ADCMoura participou também com uma comunicação de enquadramento em que deu conta do trabalho já realizado e a realizar no âmbito do projecto Mediss: “Uma fileira económica emergente no Alentejo - Do plano de acção construído durante o projecto Mediss aos novos projecto de apoio ao desenvolvimento da fileira.”
Da ”plateia” surgiram igualmente muitas e interessantes informações e mesmo propostas concretas de futuras colaborações entre investigadores e produtores, no que foi afinal o tom geral das conversas geradas também nos bastidores do encontro, entre cafés e almoço.
Estão já previstas (e até entretanto encetadas) algumas iniciativas colaborativas entre actores da produção e da investigação.