A RUA DAS HORTAS EXISTE MESMO. FICA SITUADA EM MOURA, NO BAIRRO DO SETE E MEIO.
ESTE BLOGUE É O DIÁRIO DE BORDO DA HORTA COMUNITÁRIA AÍ EXISTENTE. INICIALMENTE ASSOCIADA A UM PROJECTO DE FORMAÇÃO PARA PÚBLICOS DESFAVORECIDOS, COMO ESPAÇO DA COMPONENTE TECNOLÓGICA DO CURSO, A HORTA ENCONTRA-SE AGORA NUMA SEGUNDA FASE. NESTE MOMENTO, ACOLHE ALGUNS DOS FORMANDOS QUE MOSTRARAM VONTADE EM PROSSEGUIR A ACTIVIDADE PARA A QUAL FORAM CAPACITADOS E ESTÁ ABERTA A OUTROS INTERESSADOS EM ACEDER AOS RESTANTES TALHÕES DEIXADOS LIVRES. UNS E OUTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA GESTÃO COMUNITÁRIA DA HORTA, MEDIANTE A OBSERVÂNCIA DE UM REGULAMENTO E CONTRATO DE UTILIZAÇÃO. ESTE PROJECTO CONTA COM A ORGANIZAÇÃO DA ADCMOURA EM PARCERIA COM A CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA, NÚCLEO LOCAL DE INSERÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL, EQUIPA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR PROTOCOLO DE MOURA E CENTRO DE EMPREGO DE MOURA. TAL COMO ATÉ AQUI, ESTE É TAMBÉM O ESPAÇO PARA FALAR DE REGENERAÇÃO URBANA, AGRICULTURA BIOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO.

sábado, 29 de outubro de 2011

Agrimensura na horta



A agrimensura é uma das ciências mais antigas, originalmente praticada no antigo Egipto para medir as terras quando as cheias anuais do Nilo apagavam as marcas dos seus limites. Na opinião dos gregos, foi a agrimensura que deu origem à geometria (que em grego significa precisamente "medir a terra") e foram os agrimensores egípcios  dos primeiros a produzir cálculos matemáticos, utilizando cordas com nós para medir áreas e perímetros dos terrenos. Daí serem conhecidos por "puxadores ou esticadores de cordas". Milhares de anos depois e trocando as cordas por uma fita métrica de 25 metros, quisemos relembrar esta antiga tradição, ontem de tarde, na nossa horta, definindo as medidas de cada um dos doze talhões a cultivar pelos formandos. Fazendo uso dos conhecimentos adquiridos no módulo de Matemática para a Vida, chegámos à conclusão de que é possível ter na parcela inferior oito talhões, metade com as medidas de 7x5m e a outra metade com as medidas de 6x6m. Na parcela superior haverá espaço para os restantes quatro talhões, com as mesmas medidas referidas e seguindo idêntica proporção. No período da manhã, continuámos, com o professor João, a abordar a questão da fertilidade do solo. Demos ainda seguimento ao planeamento da horta com a construção de um quadro, para cada espécie escolhida para o cultivo de Inverno, que pretende fixar alguns dados importantes por cultura: importância alimentar, cultivo, sementeira e plantação, pragas e doenças. Foram feitos os quadros para a alface, ervilha, espinafre e fava.
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"A meu ver, foi a partir disto (da medição dos terrenos após a cheia anual do Nilo) que se descobriu a geometria e assim chegou à Grécia."
Heródoto, II, 109

À mercê dos elementos


Antes de ontem, a chuva e o vento não deram tréguas e obrigaram-nos a cancelar o encontro marcado com a horta. Debaixo de telha, aproveitámos a pausa concedida pelo tempo meteorológico para avançarmos um pouco mais no conhecimento sobre o cultivo das plantas e a criação de hortas. Eis o sumário assinado pelo professor João: "Primeira abordagem ao tema da Fertilização - solo, fertilidade do solo, textura, classes, teores de M.O., factores de crescimento vegetal. Primeira abordagem ao planeamento da horta, com início da memória descritiva: escolha por cada formando das espécies a produzir neste Inverno tendoem conta o quadro das consociações. Início da discussão relativa ao aproveitamento das zonas comuns." Lá fora, enquanto se espalhava o cheiro da terra molhada pela cidade, as nossas plantas, seres do mundo inferior à mercê dos elementos, sopesavam cada gota de chuva como uma benção.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Breviário da horta


A partir dos apontamentos da professora Dulce
Culturas perenes instaladas:  Pilriteiro, Romãzeira, Figueira, Salgueiro-chorão; exploração do seu interesse nutricional, comercial e ornamental.
Culturas a instalar: temos 4 grupos de plantas a instalar:
I - Legumes (couves, favas, rabanetes, nabos, ervilhas, aipo, malaguetas...)
II - Plantas aromáticas e medicinais (tomilhos, salsas, alecrim, segurelha, coentro…)
III - Flores comestíveis (prímulas, amores-perfeitos, rosas…)
IV - Pequenos frutos (framboesas, morangos e amoras).
Neste espaço temos áreas individuais e áreas comuns / individuais:
A - Áreas individuais
De acordo com os objectivos dos formandos (gostos, autoconsumo, mercado…) e com a nossa orientação, eles deverão fazer um plano de culturas anual de modo a que a área dos talhões possa estar permanentemente ocupada e respeitar os princípios das rotações e consociações. As culturas são para autoconsumo ou são também para vender? Ex: O Hugo disse que só queria fazer favas…Em cada talhão, no mínimo, como regra, deveriam funcionar 3 culturas. 
B- Áreas comuns /Individuais (parede (jardins verticais???), áreas inclinadas e ocupadas com pedras)
Estão previstas 4 áreas de apoio às hortas individuais, que irão funcionar como "motor" de apoio ao trabalho nas hortas:
B1-Área de compostagem (a organizar) - Fazer composto com os resíduos existentes, com o apoio de um biotriturador);
B2-Área de viveiro (já iniciada com sementes e estacas);
B3-Área do tanque de rega melhorada com algumas plantas do exterior;
B4- Área das plantas (flores comestíveis, pequenos frutos e algumas plantas aromáticas e medicinais.
Este “motor" vai ter um papel importante no/na:
-Equilíbrio fitossanitário (repele algumas pragas que atacam as culturas);
-Atracção de insectos auxiliares e/ou polinizadores;
-Melhoria do aproveitamento do espaço;
-Minimização da erosão;
-Melhoria do espaço em termos paisagísticos.
Para este espaço comum também deverá haver regras ao nivel de:
-colheita das plantas;
-utilização da água;
-utilização e elaboração de composto;
-utilização do viveiro.
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Logo que o dia das sementeiras brilhar para os mortais,
deita-te ao trabalho (...)
e, seca ou alagada, trabalha a terra no tempo da lavra,
começando bem cedo, para que o solo produza em abundância.

Hesíodo, "Trabalhos e Dias" in Hélade (organização e tradução do grego de Maria Helena Rocha Pereira), 8ª ed., 2003

Mural do tempo

Antes


Durante 


Depois


(...) Caminho no passeio rente ao muro mas não caibo na sombra. A sombra é uma fita estreita. Mergulho a mão na sombra como se a mergulhasse na água. (...)

Sophia de Mello Breyner Andresen, Arte Poética I, 1962


(...) E olha bem o branco, o puro branco, o branco de cal onde a luz cai a direito. (...)

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Caminho da Manhã" in Livro Sexto, 1962

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Cooperação e competição no reino vegetal



A domesticação pelo homem das primeiras plantas, que marcou o início da agricultura, levou também à criação dos primeiros sistemas de policultura, nos vales e várzeas fluviais da Mesopotâmia, antigo Egipto e China. Nessa altura, certamente, estava longe de se saber que duas ou mais espécies de plantas podiam, por exemplo, competir ou cooperar entre si, desde que suficientemente próximas para isso acontecer. Apetece dizer que a facilidade, em certos casos, ou a dificuldade, em outros, de as plantas se complementarem subsiste passados cerca de dez mil anos, embora hoje já seja possível perceber que essas interacções podem ter efeitos positivos (estimulantes) ou negativos (inibidores), e, consoante se trate de consociações favoráveis ou desfavoráveis, isso significar ou não melhorias, por exemplo, no combate às pragas, na utilização dos nutrientes do solo com possibilidade de maior produtividade, na diminuição de ervas infestantes devido ao sombreamento, etc. Percebe-se assim, pelas razões expostas, que este arsenal de conhecimentos seja hoje muito usado no âmbito da agricultura biológica. Explicando melhor: a ervilha e a cebola competem entre si, sem perfil, portanto, para cooperarem e criarem sinergias. Da mesma forma, não há nada a esperar duma relação entre a couve e o tomate, a não ser competição. O mesmo se aplica ao rabanete com a batata ou ao feijão com o alho. E muitos outros exemplos poderiam ser retirados da tabela de consociações desfavoráveis que a professora Dulce distribuiu na sala e que agora recorda à sombra do chorão. Nessa lista, a campeã da "animosidade à parceria" é a batata, vá lá saber-se porquê, sempre com aquela cara cheia de olhos negros. Ou seja, a batata regista mais situações de competição do que de cooperação: não tolera o aipo, beterraba, couve, ervilha, abóbora, girassol, tomate, ervilha, framboesa, e só se "desfaz" com o feijão, milho ou fava. No que à tabela das consociações favoráveis diz respeito, a alface e o morango levam a palma, pois cooperam com boa parte das suas congéneres. Questões de feitio, de temperamento das plantas? Como esclarece a ciência, cada espécie é capaz de segregar diferentes substâncias que favorecem ou prejudicam as que a rodeiam, podendo também ser usadas como armas no combate a certos e determinados parasitas. Juntar as plantas certas é, portanto, facilitar a cooperação e a criação de sinergias, o que só pode favorecer a biodiversidade e a sustentabilidade da nossa horta.      

O despontar dos rabanetes



E ao sétimo dia, 19 de Outubro de 2011, a Natureza encarregou-se de criar os primeiros rabanetes, a que se sucederam, nos dias posteriores, os tegumentos mais temporãos de cenoura, nabo, salsa, alface e couve, todos eles ávidos de claridade. Para estes assomos tão prematuros de vida vegetal contribuíram não apenas a qualidade das sementes e uma mistura leve e arejada de substrato biológico e areia, mas igualmente a preciosa protecção do chorão da horta, que, com a sua longa cabeleira de hastes e folhas à rastafari, consegue impedir a luz directa no sobcoberto e manter a temperatura e a humidade em valores que, pelos vistos, são ideais para a germinação. E, claro, não esquecer o zelo posto na operação pelos nossos hortelões de serviço, as Anas (Filipa, Lúcia e Paula), a Teodora, a Judite, a Dina, a Isabel, o Hugo, o Jonas, o Joaquim, o Armando, o Jorge e os professores Dulce e João, sem o qual nada disto seria possível. Nos próximos tempos, com certezas de chuva e frio no horizonte, as plantas continuarão neste abrigo em tabuleiros alveolares, esperando nós que a formação do ziguezagueante polvo de raízes de cada uma delas se traduza, à superfície, no surgimento de mais e mais folhas, e, lá para diante, em recursos alimentares que se vejam e saboreiem. Enquanto isso não acontece, a professora Dulce vai dizendo que estas plantas estarão prontas para serem transplantadas quando apresentarem, pelo menos, três a quatro folhas. E nós acrescentamos: é melhor que sejam quatro, para dar sorte, tal qual o trevo de quatro folhas!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O longo muro alentejano e branco


Projecto I

O longo muro alentejano e branco
O desejo de limpo e de lisura
Aqui na casa térrea a arquitectura
Tem a clareza nua de um projecto.

Sophia de Mello Breyner Andresen

O branco obstinado


Tal como combinado, deitámos todos mãos à obra. De pincel numa mão e recipiente de cal na outra, em menos de uma hora tínhamos o muro da horta caiado e ainda as paredes do tanque. De tarde voltámos para uma segunda demão, já então se notava o branco obstinado, de que fala o Eugénio de Andrade. Caiámos ainda o parapeito do muro, a fachada da casa de um vizinho desfavorecido e apanhámos todo o tipo de lixo existente na horta e nas imediações. No fim, ficámos orgulhosos com o nosso trabalho. E mais do que isso, reforçámos o espírito de equipa e os laços de camaradagem. Venham mais desafios destes!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O tractor do nosso contentamento



Bastou um telefonema para a professora Diamantina resolver o problema. Perita que é em ajudar e achar soluções, indicou-nos o sr. Mário, o hortelão que trabalha no pomar da APPACDM, para o serviço de mobilizar o terreno da horta. Fomos falar com ele e, de acordo com a sua disponibilidade, combinámos que seria no Domingo. E foi precisamente durante a manhã de ontem, apesar de ser dia de descanso (se o Passos Coelho sabe, ainda nos dá uma medalha!), que o sr. Mário apareceu na horta ao volante de um tractor com grades de discos. Ao cabo de duas horas, tínhamos a terra "belíssima", que é como quem diz preparada para receber as primícias de Inverno. Agora só falta instalar a vedação.   

A campanha da caiação



O professor João foi o autor da estratégia: e se caiássemos o muro da horta, pois que a cal é o espelho do asseio e a melhor protecção contra os raios solares? No módulo de Educação Ambiental, o desafio foi lançado às tropas, que é como quem diz os nossos formandos. E à pergunta, quem se alista para esta campanha?, leia-se a "campanha da caiação", alguns braços se ergueram, como se fossem baionetas, para afirmarem peremptórios: podem contar connosco! De qualquer modo, os que não deram um passo em frente, ainda vão a tempo de aparecer na "frente de batalha", planeada para depois de amanhã.
Mas antes disso, houve que preparar as "munições", na passada sexta-feira, com a ajuda do Joaquim, o professor de TIC, e da D. Mariana, a inquilina da horta. Uma arroba de pedra de cal dividida por três recipientes. E depois uns poucos de baldes com água para se dar a hidratação completa, deixando "ferver" a cal até ao fim. Em Moura, terra de caleiros, por no passado existirem inúmeros fornos de cal e pessoas vivendo desta actividade, utiliza-se a expressão "derregar a cal" para descrever a passagem da cal pura ou viva a cal aérea, originando esta transformação um grande desenvolvimento de calor (cerca de 300º). O dia D é já na quarta-feira e espera-se que todos estejam a postos, munidos de pincéis e uniforme a condizer, para cumprir esta operação com o seguinte nome de código: "cal bran...ca!"  

O fruto-rei


O clima e os calcários lacustres pulverulentos de Moura hão-de ter a sua quota-parte de influência, tal a profusão de romãzeiras que povoam hortas, quintais e terrenos abertos dos arrabaldes da nossa cidade. Como não poderia deixar de ser, também as encontramos na horta da ETAR, delimitando as parcelas ou "tábuas". Cientificamente conhecida por Punica granatum L. (este segundo termo tem a ver com os grãos por que é constituída a romã), esta pequena árvore de aspecto bravio e tendência arbustiva é originária do Próximo Oriente e julga-se que foi trazida para a Península Ibérica pelos fenícios. Os gregos antigos, por sua vez, faziam oferendas de romãs à deusa Afrodite, a deusa do amor, porque acreditavam que a romã era o fruto que alimentava precisamente o amor. Nem de propósito, na nossa língua "romã" é "amor" lido ao contrário! Outros consideram a romã o fruto da sorte, comem romãs na passagem do ano e guardam algumas sementes para serem afortunados durante o ano inteiro. Mas a romã é, por excelência, também o fruto da saúde e do bem-estar (há até quem diga que é o que apresenta maior potencial "medicinal" comprovado): rica em vitaminas A e do complexo B, é anti-oxidante e hidratante (diminui o mau colesterol e por isso previne doenças cardíacas, sendo os seus benefícios superiores aos do vinho tinto, e além disso ajuda a combater os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento precoce), é anti-inflamatória e anti-bacteriana (sendo indicada, por exemplo, para a  artrite reumatóide e doenças inflamatórias intestinais), é anticancerígena (ajudando a prevenir o cancro da próstata, da mama, do cólon, do pulmão e leucemia). Tem ainda propriedades que a tornam indicada no tratamento da diabetes e da impotência. Apetece dizer que estamos perante o fruto-rei, ou não tivesse uma casca com epílogo em forma de coroa. Mas apesar de todos estes predicados, a romã é um fruto mal-amado em Moura, vá-se lá saber porquê, desprezado nas árvores até cair de pôdre, que não consta das ementas dos restaurantes, nem dos hábitos alimentares das famílias, e que, cúmulo dos cúmulos, é substituído nas prateleiras dos supermercados pelos seus congéneres de Israel, que custam 3 euros por quilo!!! Isto tudo e, no entanto, se tivéssemos que eleger o "fruto de Moura", chegaríamos provavelmente à conclusão que é à romã, a par da azeitona, que melhor encaixa este título, face a concorrentes de meter respeito como o limão, o figo, a laranja, o melão ou a uva. Para justificar a escolha e já a pensar no marketing, repare-se que "Moura" tem todas as letras da palavra "romã"!  Não há como as romãs de Moura, provavelmente as melhores do mundo! Uma última nota: se no comércio local é difícil pôr-lhes a vista em cima, provem-nas e adquiram-nas no pomar da APPACDM. Abram o portão que fica defronte da entrada principal da Escola Secundária e chamem pelo sr. Mário. Para além da simpatia do anfitrião e do espectáculo das romãzeiras carregadas com frutos inigualáveis, surpreendam-se com o preço: apenas 1 euro por quilo!

A mascote da horta


Recebeu-nos com ar feroz, ladrando e rosnando, como que a dizer: -Quem manda na horta sou eu! E nada de confianças, nem festas, nem nada, senão levas uma dentada para ver como elas te mordem. OK, prometo portar-me bem. -Posso, ao menos, pousar o saco com o substrato? E depois tirar umas fotografias à horta? Muito obrigado, Pipoca. Pipoca? Espera lá: mas com este nome hás-de ser mesmo esse cão que queres aparentar, não é Pipoca? No mesmo instante em que lhe descobrimos a "careca", o Pipoca muda de estratégia: agora pula à nossa volta, lambe-nos os sapatos e agarra-se como uma lapa às calças sempre que damos um passo. Resumindo: o Pipocas quer é protagonismo. -Bem que podias tirar-me uma fotografia para aparecer no blogue da horta. Façamos-lhe então a vontade, antes que mude de ideias e volte a arreganhar os dentes.     

Assumir compromissos


No dia 13, quinta-feira, na primeira aula de Educação Ambiental, uma pergunta para orientar a reflexão e interpelar a consciência: Ambiente, um problema dos outros? E logo os formandos em uníssono: Não, um problema de todos nós! Iremos por partes. Depois de um momento para apresentação individual, solicita-se que cada um escolha duas fotografias impressas de um lote de trinta e que acerca de cada uma delas escreva três palavras que de alguma forma consigam revelar o(s) significado(s) das imagens. São retratos de problemas ambientais, mas também de soluções para os enfrentar. São registos da tragédia humana que se vive em muitos lugares deste planeta por causa das agressões ao ambiente e também de réstias de esperança baseadas nos avanços da ciência, da tecnologia, mas sobretudo na alteração dos nossos comportamentos através da Educação Ambiental. Há quem descreva literalmente o conteúdo da imagem; há quem vá mais longe e "faça a ponte" com este léxico do nosso tempo: biodiversidade, recursos renováveis e não renováveis, alterações climáticas, gases com efeito de estufa, política dos 3R, eficiência energética e hídrica, sociedade de consumo, desenvolvimento sustentável etc, etc. Seguindo este trajecto ainda na próxima sessão, voltaremos ao início para ensaiar uma resposta: a mudança começa em cada um de nós, cada um de nós é parte do problema, mas também parte da solução; a cidadania ambiental é isso mesmo: compromisso entre direitos e responsabilidades; o que podemos fazer então para mudar? Assumir compromissos! É o que vamos (tentar) fazer nas próximas sessões de Educação Ambiental.      

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Mergulhos na horta


Quem não gostaria de fazer como estes patos, com o calor dos últimos dias e com este tanque a transbordar de água límpida e fresca?    

Green Team


Este é o green team que se propõe mudar em pouco mais de quatro meses o aspecto actual da Horta da ETAR (é assim que lhe chamam por aqui), devolvendo-lhe, com empenho e trabalho, os terrenos cultivados de antigamente. Da esquerda para a direita, à sombra do chorão, o Joaquim, o Armando, a Ana Lúcia, a Ana Paula, a Dina, a Teodora, a Ana Filipa (que fez 20 anos antes de ontem!), o Jorge, o Jonas e o Hugo. Faltam a Isabel e a Judite, que não puderam estar presentes na formação. E falta o professor João que se reservou para outras fotografias.

Curso de Produção Agrícola: Horta Comunitária


O projecto formativo referido no anterior e inicial post dá pela designação de Empreender à Medida, Produção Agrícola: Horta Comunitária, foi candidatado pela ADCMoura, enquanto entidade formadora, ao Programa Operacional do Potencial Humano, Tipologia 6.1, e visa, em traços gerais, mobilizar e aumentar as competências pessoais, sociais e empreendedoras de pessoas que enfrentam situações de desfavorecimento, através sobretudo do contacto experimental com o mundo do trabalho associado neste caso à produção agrícola e ao cultivo de uma horta colectiva em Moura, permitindo por essa via que alcancem a tão desejada qualificação e inserção sócio-profissional, sem esquecer as dinâmicas de ordem económica e ambiental que esta intervenção pode ajudar a lançar. Para além da ADCMoura, na qualidade de entidade coordenadora e formadora, este curso conta com a participação da Câmara Municipal de Moura, que garantiu em tempo útil a cedência do espaço da horta, de que é proprietária e onde tem lugar a componente prática da formação, o Núcleo Local de Inserção da Segurança Social, a Equipa Técnica de Acompanhamento Familiar Protocolo de Moura e o Centro de Emprego de Moura, que tiveram um papel importante na sinalização dos candidatos para frequência desta acção. Estas cinco entidades compõem o Conselho de Acompanhamento do Projecto, que, entre outras atribuições, deverá garantir a partilha regular de informação e outro tipo de recursos entre os seus membros para apoio integrado, por exemplo, à resolução de necessidades básicas dos formandos, à resolução de problemas relacionados com a sua adaptação à formação/aprendizagem ou com a sua preparação para a inserção/contexto de trabalho. Enquanto decorrem as conversações para aperfeiçoar os canais em que se deverá processar toda esta operação de acompanhamento, concluiu-se há pouco o terceiro dos oitenta dias que o curso tem de duração. E pelo segundo dia consecutivo descemos a Rua das Hortas para pôr as mãos na terra. É um prazer que queremos partilhar aqui com todos.  

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A hora das hortas


Ao fundo da ladeira que constitui uma boa parte da Rua das Hortas existe este oásis a justificar o topónimo. Um lugar aprazível, como devem ser todos os oásis, onde não faltam um tanque de água fresca…com peixes! e zonas de sombra oferecidas, nestes dias quentes de Outubro, por um chorão, um pilriteiro, uma oliveira e umas quantas romãzeiras e figueiras a uma dezena de ovelhas residentes. Eis aqui uma pequena amostra do património agrário do Mediterrâneo, que neste caso beneficia da proximidade dos ricos solos de aluvião, onde o rio da Roda se encontra com a ribeira de Brenhas, e da água de nascente proveniente do Castelo. São condições excepcionais nestas terras do Sul ameaçadas pela desertificação e que foram sabiamente aproveitadas ao longo dos séculos e até há muito pouco tempo por gerações de hortelões, tornando Moura auto-suficiente na produção de frutas e hortícolas. Porém, a situação alterou-se e estes mesmos produtos chegam agora de fora, alguns de muito longe, para rechearem as prateleiras das grandes superfícies. Sinais do tempo, as últimas horteloas deixaram de vender no Mercado Municipal e restam dois ou três produtores que abastecem o pequeno comércio. É um facto que as pequenas hortas periurbanas perderam importância, mas existe a esperança de que melhores dias virão. Precisam sobretudo de uma oportunidade, que, ironia das ironias, pode ser dada pela actual crise, a tal que, mais cedo ou mais tarde, nos vai obrigar a voltar à terra, à agricultura, para produzirmos os nossos próprios alimentos. Este é o ponto de partida de um projecto formativo que irá ter lugar nos próximos tempos no cenário que se vê na imagem e que pretende chamar a atenção dos mourenses para um património que é seu e que necessita de ser aproveitado em prol do desenvolvimento local, em benefício da comunidade, conjugando aspectos de natureza social, económica, ambiental e política. Nesse sentido, este blogue pretende ser o diário de bordo duma caminhada para a qual queremos convidar todos os que se reconhecem nesta causa da revitalização das hortas, em particular, e do desenvolvimento sustentável e solidário, em geral.