A RUA DAS HORTAS EXISTE MESMO. FICA SITUADA EM MOURA, NO BAIRRO DO SETE E MEIO.
ESTE BLOGUE É O DIÁRIO DE BORDO DA HORTA COMUNITÁRIA AÍ EXISTENTE. INICIALMENTE ASSOCIADA A UM PROJECTO DE FORMAÇÃO PARA PÚBLICOS DESFAVORECIDOS, COMO ESPAÇO DA COMPONENTE TECNOLÓGICA DO CURSO, A HORTA ENCONTRA-SE AGORA NUMA SEGUNDA FASE. NESTE MOMENTO, ACOLHE ALGUNS DOS FORMANDOS QUE MOSTRARAM VONTADE EM PROSSEGUIR A ACTIVIDADE PARA A QUAL FORAM CAPACITADOS E ESTÁ ABERTA A OUTROS INTERESSADOS EM ACEDER AOS RESTANTES TALHÕES DEIXADOS LIVRES. UNS E OUTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA GESTÃO COMUNITÁRIA DA HORTA, MEDIANTE A OBSERVÂNCIA DE UM REGULAMENTO E CONTRATO DE UTILIZAÇÃO. ESTE PROJECTO CONTA COM A ORGANIZAÇÃO DA ADCMOURA EM PARCERIA COM A CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA, NÚCLEO LOCAL DE INSERÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL, EQUIPA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR PROTOCOLO DE MOURA E CENTRO DE EMPREGO DE MOURA. TAL COMO ATÉ AQUI, ESTE É TAMBÉM O ESPAÇO PARA FALAR DE REGENERAÇÃO URBANA, AGRICULTURA BIOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Dos peixes e dos Antónios

Quando soube que o António havia soltado uns peixitos do barranco no tanque da horta, resolvi conferir mas só achei os dezoito do costume. Dos recém-chegados, sequer um leve espadanar de águas. Foi então que me lembrei de um outro António: o Vieira. E de uma certa passagem de um dos seus mais famosos sermões. Lapidar. Intemporal. 
«A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande.»
Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes, IV, pregado em São Luís do Maranhão, em 13 de Junho de 1654, faz hoje precisamente 363 anos, dia de Santo António (mais um António!).


sexta-feira, 19 de maio de 2017

Vivam as plantas!

Ontem, uma centena de alunos, professores e funcionárias da Escola do Sete Meio, e ainda alguns pais, estiveram na Horta Comunitária de Moura para celebrar o 4º Dia Internacional do Fascínio das Plantas, uma iniciativa organizada pela Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura, sob a égide da European Plant Science Organization. Pretexto para conversas e actividades práticas sobre temas naturalmente fascinantes!, como a comunicação das plantas, a importância das plantas na agricultura, produção de alimentos, saúde humana e conservação do meio ambiente, famílias de plantas, consociação e rotação de culturas, plantação e multiplicação de plantas, conservação do solo ou o ciclo da matéria orgânica.
Uma viagem bem animada pelos meandros do universo vegetal, a partir dos recursos da Horta "à mão de semear", que favoreceu o processo ensino-aprendizagem, abriu múltiplas possibilidades de trabalho pedagógico na sala de aula e contribuiu ainda para reforçar a relação entre a escola e a comunidade. No final, brindámos todos ao fascínio das plantas com uma infusão deliciosa de lúcia-lima cultivada na nossa Horta. Tchin-tchin! E vivam as plantas!
Nota: A informação constante dos cartazes foi retirada do livrinho Guia prático - Agricultura biológica, da nossa amiga Maria Mota (Centro de Educação Ambiental de Vale de Cambra). 















  

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Uma questão de oposição

A Capicua passou há dias pela rua das hortas, com a sua Mão Verdea propósito da celebração do Dia Mundial da Árvore e da Poesia. Trata-se de um livro-disco que usa rimas certeiras e bem ritmadas para falar sobre agricultura, alimentação, ervas aromáticas, consumo, ecologia, igualdade, liberdade, coisas do nosso tempo e outras intemporais, e que,«sendo para crianças, não se quer infantil!».
Neste sábado, a Capicua, o Pedro Geraldes, autor das músicas, e o resto da banda apresentaram a Mão Verde em Évora, numa noite que começou fresca mas que acabou por envolver e aquecer os corações dos que se deslocaram ao largo da Sé, miúdos e graúdos.
No final do concerto, durante a sessão de autógrafos, falei da nossa Horta à Capicua, sem suspeitar que ela também cuidasse de uma, que é só sua. Pensando bem, não se canta assim os significados de uma horta sem ter «terra nas unhas, terra no joelho, terra no vestido, terra no chapéu», sem ter, enfim, a "mão verde", tradução da expressão francesa, "avoir la main verte", que significa ter o dom de cuidar das plantas ou jeito para jardinagem.





«A minha horta
"Eu sei o que é que eu quero. Sei que não vou mais abrir mão da minha horta e do meu galinheiro. E isso não é uma questão de idade, é uma questão de oposição!” Dizia Elis Regina numa entrevista no início da década de 80, já depois de o ter cantado na sua “Casa no Campo”. Ora eu, além de ter assinado em baixo com uma canção-homenagem com o mesmo título no meu primeiro disco, assino em baixo novamente aqui, em jeito de declaração de amor.
Eu não bebo, não tomo drogas, não pratico boxe ou desportos radicais, não tenho compulsão pelo consumo, não tenho o hábito de dançar madrugada fora numa pista de dança, não sou fã de música psicadélica e, portanto, restam-me poucas outras coisas para servir de escape, gatilho para o êxtase ou simples descarga de adrenalina.
Eu gosto de dormir muito, ficar em casa a ver programas de política e de cuidar da minha horta. (Sou uma seca.) A adrenalina fica toda para o palco e o êxtase para os mergulhos no mar, para o momento em que encaixo a palavra certa na rima que estava em aberto e para os gelados italianos. De resto, gosto mesmo é da minha horta.
Tenho toda a noção de que esta associação entre agricultura e lazer pode parecer coisa de dondoca de primeiro mundo ou laivo de romantismo hippie, uma perspectiva totalmente urbano-açucarada, desenraizada da “vida real”, própria de quem nunca teve de encarar o extenuante trabalho no campo. Podemos até considerá-la uma agricultura pós-produtiva, já que a motivação para o trabalho não depende do resultado, na medida em que a subsistência também não. Mas a verdade é que além de ser um prazer, ensina-me muitas coisas importantes e reduz uma boa parte da minha pegada ecológica.
Ter uma horta, permitiu-me ter um compostor, onde deposito toda a matéria orgânica que sobra da cozinha (cascas de fruta, restos de vegetais, borras de café, guardanapos de papel...). Num processo do qual resulta um adubo riquíssimo para a terra e que reduz cerca de 40% do lixo doméstico que iria para incineração ou aterro. Faz diferença.
Ter uma horta, fez com que me reconectasse com as estações do ano, que aprendesse quais os produtos da época e quais as variedades que se dão melhor no nosso clima. Que valorizasse a biodiversidade e o imprescindível papel dos insetos polinizadores (num momento em que as abelhas se aproximam perigosamente da extinção). Que tivesse uma maior noção do esforço depositado nos ciclos produtivos e como dá trabalho produzir comida (num contexto em que estamos cada vez menos conscientes de tudo isso): no supermercado há sempre curgetes, há curgetes o ano inteiro (e até parece estranho que há anos ninguém sabia o que era uma curgete...).
Ter uma horta é um pretexto para estar ao ar livre, concentrada em tarefas físicas, durante horas, sem pensar em mais nada. É essencial para a minha higiene mental e ainda me dá saladas de borla!
E mesmo do ponto de vista coletivo, a agricultura urbana é importante. Ter hortas nas cidades, além de ser providencial para a alimentação de muitas famílias, tem muitas vantagens. Mantém, disponíveis e produtivas, superfícies permeáveis ao escoamento de águas, aproveita muita matéria orgânica que de outra forma era desperdiçada, garante espaços verdes mantidos a custo zero e de forma voluntária, pode ter um aproveitamento pedagógico e contribui para o regresso a um modelo de sustentabilidade que, parecendo novo, não é. As cidades do passado eram rodeadas de hortas. A proximidade entre produtores e consumidores foi sempre uma boa ideia! Além de nos poder salvar a vida.
Como nos EUA durante a Grande Depressão, ou na Alemanha do pós-guerra (com hortas no Central Park, no Tiergarten e onde fosse possível). Como em Havana, nos primeiros anos de embargo ou, mais recentemente, na Detroit pós-industrial.
Decididamente, estou com Elis: não vou abrir mão da minha horta. E não é só por uma questão de prazer, é mesmo uma questão de oposição!»

Capicua

terça-feira, 18 de abril de 2017

Matrioska de jardins

Finalmente, a viagem conduz-nos à cidade-jardim de Moura, com os seus mais de mil pátios, quintais, hortas, poços e tanques de rega. 
De entre as inúmeras manchas verdes que dão título à cidade, destacam-se as hortas do vale da ribeira de Brenhas, nas cercanias do Sete e Meio, rondadas dia e noite por rebanhos badalantes, caçadores de perdizes e apanhadores de espargos. 
De todas as hortas-jardim capazes de deslumbrar, nenhuma iguala a que nos espera ao fundo da rua das Hortas, bem exposta ao sol e resguardada dos ventos dominantes, onde vicejam couves, alfaces, beringelas e demais verduras comestíveis.
Dentro desse jardim, um outro se revela ao longo da álea plantada de romãzeiras em ordem e de ervas odoríferas em desalinho, que não poupam nos seus perfumes e se desenvolvem em terraços a níveis diferentes conforme a inclinação do talude, numa mistura de tamanhos, densidades e cores. Por aqui podemos deambular de olhos fechados, como se jogássemos à cabra-cega dos aromas, num passeio tranquilo e meditativo.
No final desse passeio-deambulato, existe um outro jardim, mais secreto e refrescante que todos os outros, onde coabitam as plantas mais sensíveis ao calor e aridez. Esconde-se sob a figueira, cuja folhagem impede o sol de ver o chão, à beira do tanque espelho de água, de que se assenhorearam ninfas, nereides e alguns barbos e onde abeberam andorinhas e morcegos em voos rasantes, sem lhes pedirem licença. Este é o mais íntimo e reservado dos jardins, que se fecha ainda mais sobre si próprio, e que é a imagem de um paraíso prometido. Este é o jardim em que os desejos despertam todos ao mesmo tempo a assediar-nos.

«Isaura, cidade dos mil poços, presume-se que se situe por cima de um profundo lago subterrâneo. Por toda a parte onde os habitantes escavem na terra longos furos verticais conseguem tirar água, e foi até aí e não para além desses limites que se alargou a cidade: o seu perímetro verdejante repete o das margens escuras do lago sepultado, uma paisagem invisível condiciona a visível, tudo o que se move sob o sol é impelido pela onda que bate encerrada sob o céu calcário da rocha.»

Italo Calvino, As cidades invisíveis, Editorial Teorema, 2002, p. 24. 









quarta-feira, 22 de março de 2017

21 de Março

Leitura de poemas (Pessoa, Camões, Sophia, O'Neill, Eugénio, Shakespeare...). Provas de cheiros e sabores e curiosidades sobre as plantas aromáticas e medicinais do talude da Horta (lúcia-lima, tomilho-limão, hissopo, alfazema, stevia, hortelã-pimenta, absinto, arruda, erva-cidreira, erva-príncipe, erva-do-caril...). Experiências científicas («É ácido ou básico?» e o «Avião a jacto»). Actividades agrícolas (sementeira de coentros, multiplicação de plantas por estacas e plantação de espécies aromáticas envasadas). A alegria e a vontade de descobrir dos pequenos participantes. Que, no final, levaram consigo uma lembrança de um dia especial, em forma de postal carimbado. De toda esta diversidade se fez a celebração, ontem, do Dia da Árvore e da Poesia na Horta Comunitária de Moura. 





 
















terça-feira, 7 de março de 2017

O Fascínio das Plantas na Horta Comunitária de Moura

Sob a égide da European Plant Science Organization, a Horta Comunitária de Moura comemora, a 18 de Maio, o 4º Dia internacional do Fascínio das Plantas. A partir das 11 horas, a Horta abre as suas portas a todos os interessados para uma visita guiada de exploração e conhecimento, seguida de actividades práticas com espécies hortícolas, aromáticas e as consideradas "daninhas" ou adventícias, em que se procurará destacar a importância das plantas na agricultura, na produção sustentável de alimentos, na saúde humana e na conservação do meio ambiente: histórias e adivinhas sobre plantas, provas de aromas e sabores, consociação e rotação de culturas, multiplicação de plantas e plantação de algumas espécies. Para marcar na sua agenda.


domingo, 5 de março de 2017

Dia mundial da Árvore e da Poesia

No âmbito da iniciativa dias verdes da ADCMoura, a Horta Comunitária de Moura celebra, a 21 de Março, o Dia Mundial da Árvore e da Poesia. Do programa constam uma visita guiada, exposição e leitura de poemas e a realização de actividades agrícolas. Com as presenças confirmadas de Fernando Pessoa, Luís de Camões, Eugénio de Andrade, Cecília Meireles, Alexandre O'Neill, Homero, Capicua, Sophia de Mello Breyner Andersen e muitos outros poetas. A partir das 11 horas, na Rua das Hortas, em Moura, uma manhã aberta a miúdos e graúdos. Para marcar na sua agenda.


Alexandre O'Neill


Capicua