Celebrámos a conclusão do nosso curso de formação com um lauto almoço confeccionado pelos próprios formandos e servido em plena horta. Tratou-se de uma espécie de adiafa, termo utilizado aqui no Alentejo para designar o ritual de celebração alimentar e de confraternização associado à conclusão dos trabalhos do campo, após o ciclo agrícola. Para a ocasião festiva, escolhemos receitas à base de produtos das hortas e convidámos alguns amigos a juntarem-se à nossa mesa, que ficaram extasiados com a diversidade e qualidade da oferta gastronómica.
As iguarias que fizeram as delícias de todos os comensais, sem excepção, divididas por entradas, pratos principais e sobremesas, dão pelos nomes apetitosos de: favas salteadas com enchidos, cenouras à algarvia, batatas de alho e azeite, pesto de manjericão, tomate cherry recheado, caldo verde salteado, alho francês à Brás, caldo de espinafres com queijo e ovos, pêras cozidas com alfazema, laranjas com azeite e flor de sal, maçãs assadas com passas.
Porque a lista é grande, optámos por transcrever apenas uma das receitas, a do caldo de espinafres, que reza assim:
Ingredientes: 1 molho de espinafres; 1 cebola grande; 2 cabeças de alho; 5 batatas médias; 2 queijos frescos; 4 ovos; azeite; louro; sal.
Modo de preparação: Cebola e metade dos alhos bem picadinhos a refogar no azeite com o louro. Deitar os espinafres e as batatas cortadas em rodelas grossas. Temperar com sal. Mexer bem durante 2 a 3 minutos. Depois dos espinafres perderem metade do seu volume, deitar então a água e deixar cozinhar em lume médio durante 30 minutos. Acrescentar os queijos cortados em quartos ou oitavos e cozinhar durante mais 5 minutos. Finalmente, deitar os ovos um a um para escalfar. Pode ser servido acompanhado de cubos de pão.
Durante a refeição, fomos brindados com uma excelente notícia: a confirmação de que, pelo menos, metade dos formandos quer continuar a produzir nos seus talhões, assegurando a continuidade da horta e do processo de inserção social e profissional que norteou este projecto formativo, depois da necessária aceitação do regulamento e assinatura do contrato que se encontram em fase de ultimação. Quanto aos talhões livres, serão objecto de concurso público, podendo candidatar-se todas as pessoas que revelem motivação e gosto em integrar uma horta comunitária, embora possa ser dada prioridade a candidatos em situação de desfavorecimento social e económico.
Boas notícias, portanto, para o futuro da nossa horta.
O início da refeição.
O que escolher? O melhor é provar de tudo.
Confraternização e parabéns aos cozinheiros.
Vamos lá provar estas cenouras à algarvia, com óptimo aspecto.
Em primeiro plano, maçãs assadas com passas; em segundo plano, alho-francês à Brás.
Não há palavras para este caldo de espinafres com queijos frescos e ovos. Fiquemo-nos então pela degustação.
Estão muitos boas estas pêras cozidas com alfazema. Idem, idem para as laranjas com azeite e flor de sal.
Em cima, da esquerda para a direita: o Armando, a Ana Paula, a Emília, a Judite, o Jorge e o Hugo. Em baixo, no mesmo sentido: a profª Cláudia, o Jonas, a Dina e a Isabel.
A adiafa
"Na altura da tirada da cortiça, a casa dava sempre uma adiafa aos tiradores da cortiça. Havia borrego, vinho e pão. E a festa era ao pé das pilhas da cortiça". (António Vilela)
"Depois, no fim da mercadoria estar toda carregada (a cortiça), faziam aquelas adiafas. Os patrões é que davam então um borrego para comemorar o fim do trabalho. É uma festa que eles fazem de comer e beber e paródia que a malta fazia". (António Oliveira)
in VALAGÃO, Maria Manuel (org.), Natureza, Gastronomia & Lazer - plantas silvestres alimentares e ervas aromáticas condimentares, edições Colibri, 2009, p. 55.
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