A terra apresenta-se seca, fissurada, quase esquelética. Não seria novidade por estas paragens se estivéssemos em Julho ou Agosto. Acontece que chegámos a meados de Março sem pinga de chuva nos últimos três meses e com pouca ou nenhuma esperança de que a situação de seca se altere significativamente nos próximos tempos, apesar dos serviços de meteorologia nos quererem adoçar a boca com alguns chuviscos prometidos para este fim-de-semana. Neste momento a seca subiu à categoria de "extrema" em 30 por cento do território continental. A nossa horta só não faz parte desta percentagem porque conta, felizmente, com um oásis e um plano de rega de emergência accionado há já algumas semanas, de que fazem parte regadores, baldes e muita força braçal, isto enquanto não estiver a funcionar o sistema automático. Sem a pequena bolsa de frescura que é o seu tanque, rasante de água de nascente, e a situação seria de calamidade para as nossas culturas como sucede por esses campos fora, de norte a sul, onde já só as pedras conseguem medrar. Dizem que a culpada pela situação que alastra a toda a Península Ibérica chama-se NAO (North Atlantic oscillation). É por causa dela, da oscilação, que os ventos de oeste e as superfícies frontais responsáveis pela chuva teimam em deslocar-se para latitudes mais setentrionais, cedendo o seu lugar aos anticiclones de bloqueio, que não arredam pé por cima das nossas cabeças. Tudo leva a crer que este cenário tenderá a repetir-se com maior frequência no futuro, com aumento da temperatura média da atmosfera, diminuição da precipitação e registo de fenómenos extremos de que as secas são exemplo. Sabemos como chegámos aqui, mas não sabemos como vamos sair. Espera-se que um sobressalto cívico global ajude a encontrar e a percorrer o caminho, o do desenvolvimento sustentável. Entretanto, pode ser que chova. Se isso acontecer, é menos uma crise em que pensar. Até à próxima seca.
Vem a propósito desta situação de seca, evocar uma passagem sugestiva de um dos contos de Juan Rulfo, o mestre do realismo mágico:
"Faustino diz:
-Pode ser que chova.
Todos levantamos a cara e olhamos uma nuvem negra e pesada que passa por cima das nossas cabeças. E pensamos: «Pode ser que sim.»
Não dizemos o que pensamos. Há bastante tempo que se nos acabou a vontade de falar. Acabou-se com o calor. Uma pessoa conversaria com muito gosto noutro sítio, mas aqui dá muito trabalho. Uma pessoa põe-se a conversar aqui e as palavras aquecem na boca com o calor de lá de fora, e secam-se-nos na língua até nos deixarem sem fôlego.
Aqui as coisas são assim. Por isso a ninguém lhe dá para conversar.
Cai uma gota de água, grande, gorda, fazendo um buraco na terra e deixando um empaste como de uma cuspidela. Cai sozinha. Nós esperamos que continuem a cair mais. Não chove. Agora, se olharmos para o céu, vê-se a nuvem aguaceira correndo para bem longe, cheia de pressa. O vento que vem da aldeia arrima-se-lhe empurrando-a contra as sombras azuis dos cerros. E a gota caída por engano é comida pela terra, que a faz desaparecer na sua sede.
Quem diabo terá feito esta planície tão grande? Para que é que serve, hã?"
Juan Rulfo, "Deram-nos a terra" in A Planície em Chamas (El llano em llamas), tradução Ana Santos, Cavalo de Ferro editores, 2003.
Um tomilho e uma manjerona à espera do chuveiro dos regadores
O Jonas sachando a sua leira de favas
Uma alface do talhão do Armando, que já dá para uma salada
Ervilhas à compita com alfaces e couves
Sachar, mondar, regar
O Hugo já perdeu a conta aos regadores de água
O Joaquim e as suas alfaces consoladas
Está tudo até com optimo aspecto! Bom trabalho! Armando essa alface deve ter sabido bem não? Como estou no primeiro ano de cultivo, ainda não tive a grandeza de ir ao campo colher e comer... Este ano se deus quiser irei faze-lo.. Cumprimentos Amigos
ResponderEliminar