Hoje, em que se comemora simultaneamente o dia mundial da árvore e o dia mundial da poesia, começamos com um belo poema do grande Alexandre O'Neill, dedicado a uma oliveira, a todas as oliveiras e árvores sem idade.
A uma oliveira
Muito antes de Os Lusíadas diz-se que já aqui estavas.
Pré-camoniana,
sazão a sazão,
foste varejada séculos a fio.
O pinho viajou.
Tu ficaste.
Ao som bárbaro de um rádio de pilhas,
desdobram toalhas
na tua sombra rala.
Alexandre O'Neill, Poesias Completas, Assírio e Alvim, 3ª ed., 2002, p. 354.
Aproveitando a boleia, este post pretende dar conta de uma iniciativa dedicado às oliveiras milenares de Moura, que irá decorrer no próximo dia 13 de Maio, no âmbito da XII Olivomoura - Feira Nacional de Olivicultura, e que conta com a ADCMoura como uma das entidades organizadoras.
Reza assim o texto promocional, também disponível em
http://www.adcmoura.pt/html/percurso_5.html
PERCURSO 5
a rota das oliveiras milenares
Moura | 13 maio 2012
Moura é terra de fino azeite e oliveiras antigas. O clima e os calcários lacustres hão-de ter a sua quota-parte de influência neste estatuto. O contributo de gerações de agricultores também. Entre os primeiros, contam-se os povos castrejos das idades do Bronze e do Ferro. Depois os fenícios e romanos, que trouxeram os conhecimentos de apuramento de variedades a partir dos zambujeiros locais. E finalmente os árabes, que aprofundaram o cultivo da oliveira, em maior escala. Assim surgiram as primeiras oliveiras produtoras de azeite da região. Algumas destas árvores monumentais, que iremos conhecer durante o nosso passeio, de troncos amplos e retorcidos, contemporâneas ou mesmo anteriores à nacionalidade portuguesa, resistem ainda no termo de Moura, embora com o futuro ensombrado pelo avanço do olival intensivo e superintensivo. Sem protecção pública, muitas delas acabarão, na melhor das hipóteses, por ser vendidas e transferidas para locais distantes, perdendo-se assim um património inestimável (natural, cultural, agrícola, cénico e genético). Para ajudar a perceber melhor os contornos deste problema e a identificar possíveis estratégias para o resolver ou minimizar, contamos com José Pedro Fernandes de Oliveira, agrónomo, defensor desta causa, proprietário de um olival muito antigo em Serpa e guia do nosso percurso.
DISTÂNCIA_ 10 Km | PERCURSO Circular | COTA MÁX_ 204 m | COTA MIN_ 92 m
LOCAL E HORÁRIO DE PARTIDA
Jardim das Oliveiras
R. João de Deus, Moura . 11h
ORGANIZAÇÃO
Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura (ADCMoura)
Câmara Municipal de Moura
Centro de Estudos e Promoção do Azeite (CEPAAL)
GUIA
José Pedro Fernandes de Oliveira _ tem contribuído para que um olival com árvores centenárias e milenares ainda resista nos arredores de Serpa.
Com formação em Agronomia e ex-professor da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Serpa, está ligado às oliveiras desde sempre, ajudando o seu pai a plantá-las e a recuperar o património familiar de árvores seculares.
Recuperou um conjunto de oliveiras, dispersas por 15 hectares, com um diâmetro de caule ressequido que, nalguns casos, ultrapassam os 8,5 metros e mantém as suas árvores junto ao IP 8, a caminho de Vila Verde de Ficalho e a meia dúzia de quilómetros de Serpa.
Para superar as dificuldades financeiras que a manutenção do histórico olival implica é forçado a vender a azeitona a uma cooperativa, perdendo-se, segundo tem defendido, a qualidade única da sua produção nos lotes resultantes da sua mistura com a azeitona corrente.
Antes de iniciar o processo de recuperação das árvores seculares, José Oliveira nunca tinha ultrapassado as 20 toneladas de azeitona numa colheita. Depois de o ter renovado, tratando as copas de maneira a ficarem mais próximas do chão, tendo em vista o seu varejamento mecânico, nunca mais ficaram abaixo das 30 toneladas. Em 2010, com o seu esforço, atingiu as 84 toneladas.
Tem defendido que deve haver mais apoios e programas para a sua preservação, evitando-se o abandono ou substituição por olivais modernos. Acalenta assim a esperança de que os seus descendentes ou futuros proprietários "não destruam" um olival que é contemporâneo ou até anterior à nacionalidade portuguesa, e que conseguiu chegar aos dias de hoje muito pela acção preponderante de José Oliveira.
Pela defesa desta causa, em 2011 foi-lhe atribuída uma menção honrosa no âmbito do Prémio Nacional de Ambiente.
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