Passam agora dez anos. A primeira década, de muitas que se seguirão, da Horta Comunitária de Moura. Começou por ser um projecto formativo para jovens desempregados. Continua a ser um processo de aprendizagem e muito mais para os que chegaram depois e por lá se mantêm. Os que plantam para escapar à rotina, para ocupar o tempo e desocupar a cabeça, para matar saudades do campo, para combater as crises do nosso tempo (económica, ambiental, pandémica…), para entreter a reforma e celebrar a vida («é melhor estar aqui do que sentado o dia inteiro num banco de jardim»). Ir à horta era há dez anos o que é agora, cada vez mais: uma tendência sem marcha atrás. Estamos de volta à terra para produzir os nossos próprios alimentos. De onde vem o apelo? Da necessidade do regresso às origens, da relação umbilical entre homem e terra, das preocupações alimentares, da consciência ambiental, do imperativo da sustentabilidade. Contra a pegada ecológica dos alimentos, o consumo de produtos próprios da estação, produzidos à porta de casa. É esta a filosofia que nos move.
Para aqui chegarmos, percorremos um longo caminho. Primeiro, a cedência, pela Câmara Municipal de Moura, da Horta à ADCMoura, no bairro do Sete e Meio. Depois a mobilização (ao de leve) do terreno com o tractor da APPACDM. Seguiu-se a vedação com paus e rede ovilheira. A delimitação dos talhões de cultura, recorrendo a técnicas de agrimensura do Antigo Egipto. A preparação do solo de modo muito pouco intrusivo. A análise de amostras de solos. A sementeira em tabuleiros e nos talhões, “à linha”, “ao rego”… A plantação de alfaces, couves, cebolas, alhos, tomates, pepinos, curgetes, abóboras... de acordo com as estações. A cobertura do talude com plantas aromáticas e medicinais (faixa de compensação biológica!). A estrumação. A consociação. A rotação de culturas. A monda. A rega. A colheita. Tudo para auto-consumo. Quando há excedentes costumam ser dados ou partilhados entre os utilizadores. Ou não fosse a horta chamar-se comunitária, isto é, um espaço solidário. E por ser comunitária, há tarefas colectivas que a todos competem: caiar o muro (em 2011 e 2013), limpar o tanque (em 2012 e 2016), manutenção de compostores, colheita de frutos (figueira e oliveira), poda de árvores, instalação e manutenção de casa das ferramentas e do sistema de rega gota-a-gota…Pelo meio foi criado o Regulamento de Utilização (https://docs.google.com/.../0B5uLyhc08-x.../edit...), o Guia de Utilização (https://docs.google.com/.../0B5uLyhc08-x.../edit...) e o blogue da Horta (https://ruadashortas.blogspot.com/). A Horta, por ser comunitária, é essencialmente um espaço de pontes com a comunidade. Em 2013, 2015 e 2017, celebrámos o Dia Mundial da Árvore e da Poesia (21 de Março), com a participação de Fernando Pessoa, Luís de Camões, Eugénio de Andrade, Cecília Meireles, Alexandre O’Neill, Homero, Capicua, Sophia, e em 2015 e 2017, em parceria com a European Plant Science Organisation/Sociedade Portuguesa de Fisiologia Vegetal/Instituto de TecnologiaQuímica e Biológica da Universidade Nova de Lisboa, comemorámos o Dia Internacional do Fascínio das Plantas com inúmeras actividades dirigidas aos alunos do Centro Infantil Nossa Senhora do Carmo, Escola do 1º ciclo e Jardim Infantil do Sete e Meio e Escola do 1º ciclo do Fojo. Em 2012, 2014 e 2016, voltámos a receber mais alunos do Centro Infantil Nossa Senhora do Carmo para participarem em mais actividades sobre educação ambiental e agricultura biológica. Em 2015, tivemos a visita de crianças do Ateliê de Verão da Câmara Municipal de Moura. Também em 2015, a Horta foi visitada por Santiago Macias (presidente da Câmara Municipal de Moura) e por Álvaro Azedo (presidente da União de Freguesias de Moura e Santo Amador). A Horta foi objecto de conferências em Escolas de Moura e Amareleja, em 2017 e 2018. Participámos no Festival do Peixe do Rio e do Pão, em 2015. Organizámos duas oficinas de recolha e conservação de sementes tradicionais com a participação do José Mariano, da Colher para Semear. Em 2012, preparámos um almoço volante na Horta, com base nos produtos colhidos na Horta. Colaborámos com o projecto Re-Planta e associámo-nos ao Ano Internacional dos Solos, em 2015, e ao Ano Internacional das Leguminosas, em 2016. Em 2017, apresentámos a Horta à Capicua, em Évora, a propósito do seu espectáculo Mão Verde, e ficámos a saber que também cultiva uma. No ano seguinte, a Horta recebeu uma comitiva de agricultores de Cabo Verde, interessados em conhecer as nossas (boas) práticas.
Tudo isto não seria possível sem o contributo de muita gente (mesmo correndo o risco de esquecer alguém):
Formandos-hortelãos: Armando, Ana Lúcia, Ana Paula, Ana Filipa, Dina, Joaquim, Jorge, Jonas, Hugo, Isabel, Judite.
Formadores: João Rosado, Dulce Alcobia, Irene Aparício, Claúdia Guerra, Filipe Sousa.
Hortelãos pós-formação: Filipa, Zé Maria, Aquilino, José Valente, Jorge Caraça, Rosa, Joaquim Simões, Natércia, Sr. António, António Machado, Francisco Borralho, Nuno Moita…
Interlocutores da Câmara Municipal de Moura na cedência da Horta: Maria José Silva (vereadora), Jorge Pais.
Outros nomes importantes: Sr. Victor e Diamantina Escoval (APPACDM), Lurdes Lampreia, Paula Sério, Fernanda, Joana Portela, Ana Catarina (Centro Infantil N. Sra. do Carmo), Beatriz, Josefa Monge e António Monge (EB1 do Sete e Meio), Ricardo Desirat e Rita Contente (Sugo Design), Clara Lourenço e Cristina Marim (ADCMoura), Zé Barão, Chico Barão e Zé Tóino (os vizinhos).
Passaram dez anos desde que lançámos a semente. Gerou um oásis de verde e criatividade. Entrou nas nossas vidas. Ganhou raízes. Ganhou o futuro. Prontos para mais dez anos.
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2021 |
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