Na semana da Web Summit de Lisboa e para assinalar a entrada
em vigor do acordo climático de Paris, o ecossistema criativo da Horta
Comunitária de Moura dá a conhecer ao mundo a sua mais recente inovação: a
introdução do sistema de irrigação gota-a-gota em todos os talhões de cultivo. A proposta
de valor traduz-se em: maior eficiência do uso da água nas actividades da Horta
e redução de escorrimentos e de perda de nutrientes do solo, fornecendo às
plantas, com precisão, a água de que necessitam. Para além disso, evitam-se longos
tempos à espera de vez de regar com uma das duas mangueiras de serviço, como
sucedia até aqui. A próxima inovação poderá passar, quem sabe, pela instalação de
temporizadores para rega programada e automatizada. Mas isso fica para outro elevator pitch.
A propósito de distribuição / partilha da água para rega e das
formas de direito consuetudinário que lhe andam associadas, atente-se no complexo
sistema utilizado antigamente na freguesia de Macieira (Felgueiras):
«Há aí uma água que tem a sua nascente no campo de Grusmão,
situado no lugar de Bôro, freguesia de Pinheiro, a qual se denomina água da
Levada de Borbela, ou da Maçorra. Esta água, desde o S. João (24 de Junho) até
à Senhora da Lapa (15 de Agosto) tem a divisão que passamos a indicar.
Cada dia divide-se em seis partes, a saber: galo, sol-nado, chouzeiro, sesta, tarde e
sol-posto; e cada parte constitui o período de tempo durante o qual cada
interessado pode utilizar a água.
O galo começa à
meia-noite e acaba ao apontar do sol no alto do Ladário (monte sobranceiro à
vila da Lixa); o sol-nado tem início
logo a seguir e dura até aos oito pés de
sombra; o chouzeiro principia aos
oito pés e termina aos três; a sexta vai dos três pés aos oito;
segue-se a tarde, que termina ao pôr-do-sol;
o sol-posto é o período imediato, que
finda à meia-noite.
Para marcar os pés
de sombra, o camponês procede da seguinte maneira: - depois de se descalçar
e descobrir a cabeça, volta-se para o lado oposto ao sol e, marcando com a vista
o ponto até onde chega a sombra, começa a medir os pés que separam aquele ponto do lugar onde se encontra. Como se
disse, a medição é feita em pés e não
em passos. E, assim, vai encostando o
calcanhar de um pé ao dedo polegar do outro, até encontrar o limite da sombra
previamente fixado. Se a sombra mede oito pés, estará findo o sol nado e começará o chouzeiro. Esta operação tem de ser
feita em terreno nivelado.
A meia-noite,
não havendo nuvens, é determinada pelo aparecimento de uma estrela sobre o
lugar de Aljão, da freguesia de Agilde, quando a mesma está uma vara de medir
acima da linha do horizonte, isto nos meses de Junho e Julho, porque em Agosto
é meia-noite quando os sete-estrelos tiverem subido igual medida».
Manuel Bragança, Como
se divide uma água, in «Douro-Litoral«, 2ª série, VII, Porto, 1947, pp. 11
e 12, citado por Jorge Dias e Fernando Galhano, Aparelhos de Elevar a Água de Rega, Junta da Província do
Douro-Litoral, Porto, 1953, pp. 33 e 34.
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