A RUA DAS HORTAS EXISTE MESMO. FICA SITUADA EM MOURA, NO BAIRRO DO SETE E MEIO.
ESTE BLOGUE É O DIÁRIO DE BORDO DA HORTA COMUNITÁRIA AÍ EXISTENTE. INICIALMENTE ASSOCIADA A UM PROJECTO DE FORMAÇÃO PARA PÚBLICOS DESFAVORECIDOS, COMO ESPAÇO DA COMPONENTE TECNOLÓGICA DO CURSO, A HORTA ENCONTRA-SE AGORA NUMA SEGUNDA FASE. NESTE MOMENTO, ACOLHE ALGUNS DOS FORMANDOS QUE MOSTRARAM VONTADE EM PROSSEGUIR A ACTIVIDADE PARA A QUAL FORAM CAPACITADOS E ESTÁ ABERTA A OUTROS INTERESSADOS EM ACEDER AOS RESTANTES TALHÕES DEIXADOS LIVRES. UNS E OUTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA GESTÃO COMUNITÁRIA DA HORTA, MEDIANTE A OBSERVÂNCIA DE UM REGULAMENTO E CONTRATO DE UTILIZAÇÃO. ESTE PROJECTO CONTA COM A ORGANIZAÇÃO DA ADCMOURA EM PARCERIA COM A CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA, NÚCLEO LOCAL DE INSERÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL, EQUIPA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR PROTOCOLO DE MOURA E CENTRO DE EMPREGO DE MOURA. TAL COMO ATÉ AQUI, ESTE É TAMBÉM O ESPAÇO PARA FALAR DE REGENERAÇÃO URBANA, AGRICULTURA BIOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

As plantas são fascinantes!

Estima-se que existam em todo o mundo cerca de vinte e cinco mil espécies de plantas. Em Portugal, perto de cinco mil. Na nossa horta, seguramente mais de cem, entre árvores e arbustos, plantas hortícolas, aromáticas e adventícias, as chamadas ervas daninhas das culturas. À espera de serem descobertas por gente interessante e interessada no tema como os trinta e três alunos do Jardim de Infância do Sete e Meio, que vieram, com as suas educadoras, participar na celebração do Dia Internacional do Fascínio das Plantas, uma iniciativa lançada pela European Plant Science Organisation a nível mundial e coordenada em Portugal pela Sociedade Portuguesa de Fisiologia Vegetal e pelo Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa.
O evento promovido na Horta Comunitária pela ADCMoura, que contou com o apoio da Câmara Municipal de Moura e da União de Freguesias de Moura e Santo Amador, foi um dos quarenta e seis que tiveram lugar no dia 18 de Maio em todo o país, sobretudo em museus, jardins botânicos, universidades e parques naturais, e como objectivo fazer despertar a atenção dos participantes e da sociedade em geral para a importância das plantas na nossa vida, do oxigénio que respiramos à produção de alimentos, passando pela conservação do meio ambiente.  
Do programa da visita guiada constavam leituras de histórias, poemas e adivinhas alusivas às espécies observadas, apresentação das plantas e de exemplos das suas várias aplicações, provas de aromas e sabores e plantação de espécies envasadas. Actividades que arrebataram miúdos e graúdos e que, esperamos, se traduzam numa sementeira de ideias e vontades com elevado potencial de germinação.  


O Zé Maria faz um intervalo na rega e estuga o passo para receber os convidados.


Ei-los que se aproximam, ansiosos por conhecer a horta.

                               
Apresentação de anfitriões e convidados e reconhecimento da senha de entrada: "As plantas são fascinantes!" 


Uma história sobre a erva-príncipe e outra sobre as múltiplas utilizações da stévia, como por exemplo na composição deste chocolate ou deste sumo de frutos. É mesmo doce!, confirma um dos pequenos provadores. 


E que dizer da salva e da lúcia-lima, chamadas a participar no sabor deste dentífrico tão refrescante. Provem e comprovem mascando as suas folhas. 


Abeirem-se destas plantas e inalem os seus aromas. Que tal? Hum, que bem que cheiram. Esta cheira a "After Eight" e é a hortelã-chocolate. Esta cheira a ananás e chama-se salva-ananás. Estas a limão, e são a erva cidreira e o tomilho-limão.  E esta, a caril. Além de erva-do-caril, é também conhecida por alecrim-das-paredes e erva-espanta-diabos. Risada geral. 


Deste lado do caminho de serventia, encontramos um batatal que dá gosto ver. De certeza que no Outono já teremos batatas assadas no forno. Ou fritas, se preferirem. Não, as folhas da planta não se comem porque são tóxicas; apenas as batatas que crescem debaixo da terra.


Chega a vez de falar do alecrim, a planta das mil e uma propriedades. Vejam lá se não se esquecem desta: o alecrim ajuda a estimular a memória. Podem colocar ramos de alecrim atrás das orelhas, como faziam os estudantes da Grécia Antiga e os legionários romanos, e vão ver que não se esquecem do que aprenderam.


É a altura em que entra em cena a nossa malva, que não é malvada, apesar de não ter pedido licença para crescer na horta. Fez muito bem. É uma erva "daninha" com estatuto de protecção por estas bandas, tal como muitas outras que surgem espontaneamente nos talhões cultivados ou nos espaços colectivos. É também uma caixinha de surpresas, ou de primeiros socorros, como preferirem: os seus frutos, folhas e flores são óptimos em saladas, cura constipações, contribui para o bom funcionamento dos intestinos e até ajuda a fixar o cálcio no organismo. E encontra-se, por exemplo, na lista de ingredientes deste sabonete. 


O fascínio das plantas e o fascínio dos peixes do tanque. Ena, tantos!
Com este calor, apetecia mesmo nadar com eles.


Por falar em peixinhos da horta, passemos ao feijão-verde e às suas vagens, que não se deixam ver. Este feijão trepador vive nas alturas, acima das nossas cabeças, talvez no décimo andar, quase a tocar o céu. No rés-do-chão mora uma sua amiga de longa data, que lhe dá energia, o protege de algumas pragas e se chama segurelha. Pois bem, esta amizade vai para além da horta e entra na cozinha. O que conduz à seguinte pergunta: já provaram sopa de feijão verde com segurelha? Então não sabem o que perdem. Eureka! Cá estão as vagens que procurávamos. Em tamanho miniatura. Mas cheias de proteínas.


Mais atrasados que os feijões, apresentam-se os pimenteiros e os tomateiros, ambos primos das batatas. Por mais que se procure, ainda não há sinais de frutos.

  

Mas venham ver as beldroegas e os espinafres-da-Nova Zelândia semeados pelo Aquilino. Que maravilha! 


A nossa oliveira. A árvore de Moura e do Mediterrâneo, por excelência. A que devemos o fruto de que é feito o nosso tão fino azeite. 


Chega a vez de conhecer os morangueiros plantados pela Filipa. Água e sol em abundância e solo com matéria orgânica são a receita para conseguir as colheitas generosas que se avizinham, ricas em vitaminas. 


No poema de Cecília Meireles, a romã rubra dorme cheia de rubis. Acrescentamos nós: "Dorme ainda na flor, à espera de nascer".


Tempo de lanche, acompanhado com infusão fresca de hortelã-pimenta. Mesmo a condizer, no final da manhã quente.


E por falar em hortelã, conhecem aquela moda que começa assim: 

Tenho no meu quintal um limoeiro,
junto ao canteiro da hortelã,
(E todos em uníssono)
ele dá limões o ano inteiro,
eu, em troca, rego-o todas as manhãs.

Eu, em troca, rego-o todas as manhãs,
isto é, se não chover primeiro,
junto  ao canteiro da hortelã, 
tenho no quintal um limoeiro.


Nem de propósito: para fechar com chave de ouro, uma hortelã com aroma a limão na sua nova casa.


Escusado é perguntar "quem quer regar": "Eu!" (repetido trinta e três vezes, em uníssono).


 Adeus e voltem sempre. 
Hoje festeja-se o dia internacional do fascínio das plantas e, no entanto, não há dia, aqui na horta, em que não fiquemos fascinados só de as contemplar.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Dia internacional do fascínio das plantas

A ADCMoura - Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura e o Jardim de Infância do Sete e Meio, com o apoio da Câmara Municipal de Moura e da União de Freguesias de Moura e Santo Amador, promovem uma iniciativa de dinamização da Horta Comunitária de Moura (rua das Hortas, bairro do Sete e Meio, Moura), a realizar no dia 18 de Maio de 2015, a partir das 10.00 horas, a propósito do terceiro Dia Internacional do Fascínio das Plantas, que se celebra nessa data em todo o mundo sob a égide da European Plant Science Organisation (EPSO).
Num ambiente que se pretende informal e de confraternização, o evento tem como objectivo despertar os mais novos para a importância das plantas na agricultura, na produção sustentável de alimentos, na saúde humana e na conservação do meio ambiente, através do contacto directo com as espécies vegetais, hortícolas, aromáticas e medicinais, existentes na Horta Comunitária de Moura e que serão a base das seguintes actividades: histórias e adivinhas sobre plantas, provas de aromas e sabores das plantas e plantação, pelas crianças, de espécies envasadas.
No final será oferecido um lanche aos participantes. 
Contamos consigo. A sua participação é muito importante.





As partes de uma planta

«Depois de ter enumerado as suas partes, tentaremos falar acerca de cada uma. As primeiras, principais e comuns à maioria, são a raiz, caule, ramo e galho, que são como que os membros em que a planta pode dividir-se, tal como os animais. Cada uma é distinta das outras, e delas todas se forma o conjunto. Raiz é a parte pela qual é levado o alimento; o caule, aquela para onde é conduzido. Chamo caule à parte simples que surge acima da terra, que é comum igualmente às plantas anuais e às perenes, e que nas árvores se chama tronco; ramos, às partes que se bifurcam a partir dele, e a que alguns chamam franças; e galhos, aos rebentos que deles se originam, tais como os têm sobretudo as plantas anuais, e que são especialmente próprios das árvores.
O caule, como se disse, é a parte mais comum. Mas, a este mesmo, nem todas o têm, como certas herbáceas. Algumas não têm sempre, mas só anualmente, como aquelas cujas raízes duram mais. De um modo geral, a planta é coisa múltipla, variada e difícil de definir no seu conjunto. Prova disso é que não podemos tomar nenhuma característica em comum, que exista em todas, como a boca e o ventre, nos animais.
Por analogia, umas partes são assim, outras de outro modo. Com efeito, nem todas as plantas têm raiz, ou caule, ramos, galhos, folhas, flores ou frutos, nem casca, medula, nervos ou veias, como o cogumelo e a túbera. Mas nestas e noutras assim a sua natureza existe. Todavia, é sobretudo nas árvores que, como dissemos, se encontram estas partes, e a elas que pertencem especificamente. É justo, pois que sejam o ponto de referência para as restantes plantas.»

Teofrasto (séc. IV-III a.C.), História das Plantas, I, 9-11 (trad. Maria Helena da Rocha Pereira, 1959)