-É segredo ou podemos saber o que mais gostaram da horta?
-Gostámos de tudo!
-A sério?
-Sim. Gostámos do tanque e de ver as carpas, os barbos e os pimpões. A princípio pensávamos que era a brincar, mas depois vimos que eram peixinhos a sério. Gostámos também de ouvir as rãs a coaxarem numa poça ao pé do tanque.
-Apesar de estarem escondidas nos juncos.
-Sim. E gostámos de saber que há plantas que têm nomes de pessoas.
-Se calhar são as pessoas que têm nome de plantas. Até com o primeiro nome e o apelido, tal como a...
-...Lúcia-lima.
-Planta de que se faz um chá maravilhoso. Sabiam?
-E gostámos muito do poema que fala sobre ela.
-Vamos relê-lo?
-Sim.
-«Não tem boca nem pulmões.
Que não tenha não admira.
porque é pelas folhas,
que a lúcia-lima respira.
Não tem boca nem pulmões,
nem veias, a lúcia-lima!
Mas tem seiva, quanto basta,
a subir pelo caule acima.
E se porventura a ferirem,
acaba por cair no chão.
A não ser que alguém lhe dê,
logo uma transfusão.»
-Gostámos também de conhecer a hortelã do Sporting.
-Do Sporting ou do Benfica?
-Do Sporting. Porque as suas folhas são verdes e brancas, como as camisolas do Sporting.
-Os meninos que são do Benfica é que queriam ver uma hortelã encarnada, mas parece que não existe... Já agora, gostaram de a retirar do vaso e plantar no jardim da horta?
-Sim, foi muito giro. Cavámos todos um bocadinho e fizemos um buraco onde ela coubesse. No fim, regámos com o regador.
-E depois?
-Depois gostámos de conhecer a planta mais cheirosa da horta.
-Que se chama?
-Tomilho bela-luz.
-E lembram-se do outro nome por que era conhecida antigamente?
-Sal purinho.
-E porquê sal purinho? Está-se mesmo a ver...
-Porque é um pouco salgada.
-Por isso, quando não tinham sal, as pessoas usavam esta planta para temperar os alimentos.
-E porque faz melhor à saúde.
-Bem observado. E agora, esta planta, o que sabem sobre ela?
-Chama-se salva e serve para fazer pasta de dentes. Até experimentámos trincar uma folha para sentir o sabor refrescante.
-Já acabaram?
-Não. Ainda falta falar dos talhões dos senhores e das senhoras que vêm cavar a horta.
-E o que produzem eles e elas?
-Muita coisa. Alfaces, tomates, ervilhas, favas, cenouras, feijão e outras coisas. Assim não precisam de ir ao supermercado gastar dinheiro.
-Para além disso, são legumes biológicos. O que quer dizer biológicos?
-Que não levam pózinhos que fazem mal à barriga das pessoas.
-Das pessoas, dos animais e da natureza em geral. Muito bem. Agora temos aqui estes ramos de plantas aromáticas para vocês levarem para a vossa sala. Mas antes de partirem, vamos ler um poema que fala de uma destas plantas. Vamos ver se vocês descobrem qual é. Diz assim:
«Fecha os olhos bem fechados,
e diz-me a que é que cheira.
Cheira a rosa, cheira a nardo,
ou a flor de laranjeira?
Nem a rosa, nem a nardo,
nem a cravos, nem a cravinas
me cheira este poema.
O que me chega às narinas
é o cheiro a...»
Então? Digam alto! Alfa...
-...zema.
-Certo!
Peixinhos da horta
A hortelã do Sporting
Os senhores que cuidam da horta
A salva para fazer pasta de dentes
Feijão rasteiro e feijão "trapezista"
Cheira a alfazema
A horta comunitária foi visitada no passado mês de Maio por crianças e educadoras do Centro Infantil Nossa Senhora do Carmo. Este "trabalho de campo", como lhe chamaram, constituiu uma das actividades pedagógicas do projecto Semeando ciência...bem no interior do Alentejo, desenvolvido durante o ano lectivo 2013/2014 nesta instituição mourense de ensino pré-escolar. Projecto integrado e multidisciplinar que se centrou na criação de uma horta escolar (com rega gota-a-gota accionada por painel solar) e que proporcionou «inter-relações e pontes de aprendizagem entre recursos naturais (actividades em torno da motivação, preparação e cultivo de legumes na horta), ciência (experiências e pesquisas realizadas pelas crianças no âmbito da vida vegetal e animal da horta e da energia do sol) e tecnologia (actividades em torno do painel solar e do aproveitamento do sol como recurso natural)». Candidatado ao Prémio Fundação Ilídio Pinho - Ciência na Escola, este projecto viria a ser distinguido com uma menção honrosa. Ainda que com o contributo de muitas entidades, este sucesso deve-se acima de tudo a uma equipa de directores e educadores com visão de futuro, que conseguiu envolver e mobilizar as crianças, as suas famílias, parceiros institucionais, como a ADCMoura, e comunidade em geral nesta relevante acção de promoção da cultura científica na escola, a partir da rentabilização dos recursos naturais locais, que vai certamente continuar a dar frutos nos próximos anos ou não se chamasse Semeando ciência. Muitos parabéns!
Os poemas são de Jorge Sousa Braga, Herbário, Assírio & Alvim, 2ª edição, 2002.
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