Maio, mês das rosas. Também na nossa horta. Lembrar que em Novembro de 2011 eram apenas simples estacas ou roseiras em potência. E que, passados dois anos e meio sobre a clonagem, botões prenhes e outros desabrochados vieram coroar-nos. Quanto aos espinhos, já lá estando no momento da estaquia, continuam presentes no ramalhete. O que seria (d)a rosa sem espinhos, (d)a beleza sem senão, (d)o amor sem desenganos, d(o) saber sem a ilusão?
Passam este ano 450 anos sobre a morte de William Shakespeare e passa hoje uma semana sobre a morte de Vasco Graça Moura, a quem se deve a tradução integral e insuperável, para a língua portuguesa, dos Sonnets do autor inglês. E porque as rosas têm espinhos, elegemos o soneto trinta e cinco, de uma sequência de cento e cinquenta e quatro.
No more be grieved at that which thou hast done;
Roses have thorns, and silver fountains mud;
Clouds and eclipses stain both moon and sun,
And loathsome canker lives in sweetest bud.
All men make faults, and even I, in this,
Authorizing thy trespass with compare,
Myself corrupting, salving thy amiss,
Excusing these sins more than these sins are:
For to thy sensual fault I bring in sense;
Thy adverse party in thy advocate,
And 'gainst myself a lawful plea commence:
Such civil war is in my love and hate
That I an accessory needs must be
To that sweet thief which sourly robs from me.
35.
Do que fizeste a dor não te possua:
rosas têm picos, fontes de lama prata,
nuvens e eclipses turvam sol e lua,
no mais doce botão vil verme acama.
Os homens todos erram e eu segui-os
abonando-te a falta com perdão;
corrompo-me remindo os meus desvios,
mais erro é desculpá-los do que o são.
Se à falta dos sentidos dou sentido,
a parte a ti adversa é o defensor
e contra mim o pleito é dirigido,
eis em guerra civil meu ódio e amor
e tal que a ser um cúmplice me impele
de quem me é ladrão doce e cruel.
Vasco Graça Moura, Os Sonetos de Shakespeare, Bertrand Editora, Maio de 2002
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