A RUA DAS HORTAS EXISTE MESMO. FICA SITUADA EM MOURA, NO BAIRRO DO SETE E MEIO.
ESTE BLOGUE É O DIÁRIO DE BORDO DA HORTA COMUNITÁRIA AÍ EXISTENTE. INICIALMENTE ASSOCIADA A UM PROJECTO DE FORMAÇÃO PARA PÚBLICOS DESFAVORECIDOS, COMO ESPAÇO DA COMPONENTE TECNOLÓGICA DO CURSO, A HORTA ENCONTRA-SE AGORA NUMA SEGUNDA FASE. NESTE MOMENTO, ACOLHE ALGUNS DOS FORMANDOS QUE MOSTRARAM VONTADE EM PROSSEGUIR A ACTIVIDADE PARA A QUAL FORAM CAPACITADOS E ESTÁ ABERTA A OUTROS INTERESSADOS EM ACEDER AOS RESTANTES TALHÕES DEIXADOS LIVRES. UNS E OUTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA GESTÃO COMUNITÁRIA DA HORTA, MEDIANTE A OBSERVÂNCIA DE UM REGULAMENTO E CONTRATO DE UTILIZAÇÃO. ESTE PROJECTO CONTA COM A ORGANIZAÇÃO DA ADCMOURA EM PARCERIA COM A CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA, NÚCLEO LOCAL DE INSERÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL, EQUIPA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR PROTOCOLO DE MOURA E CENTRO DE EMPREGO DE MOURA. TAL COMO ATÉ AQUI, ESTE É TAMBÉM O ESPAÇO PARA FALAR DE REGENERAÇÃO URBANA, AGRICULTURA BIOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Peixinhos da horta

E agora, algo completamente diferente. Nesse dia em que eram esperados 41 graus em Moura, três hortelãos declinaram sementeiras e sachas em favor de algo mais consonante com a canícula. Depois de aboborarem a ideia peregrina, decidiram ir a banhos..., engolfando-se no tanque da horta! Enfim, podia dar-lhes para pior. Longe da ideia que fazemos do mar coralino das Caraíbas, o reservatório de água turva garantia no entanto refrigério q.b. e um terapêutico banho de lama, dos pés à cabeça. Vantagens que foram levadas em conta pelos três hortelãos quando decidiram unir esforços e não adiar mais a limpeza do tanque. Condizentes com a tarefa, usavam calçado anti-derrapante e empunhavam espátulas, escovas, pás e baldes. Ainda tentaram dosear o estrondo da entrada, mas não evitaram que o alvoroço das quietas águas tomasse formas de tsunami para rãs e insectos à deriva e envolvesse no remoinho o cardume de carpas e barbos residentes. Duas horas depois e os baldes entravam finalmente em acção no transvase dos últimos litros de água, mais lodo, limos e pedras que água, de um total de cerca de 20 mil que o tanque armazena.  E antes que perguntem qual o destino dos peixes, é melhor que se comece pela sorte das rãs. Ora tanto esbracejaram ao sabor das correntes e na crista das vagas provocadas pela movimentação dos humanos, que vieram, aturdidas, às suas mãos mais cedo do que se pensava. Foram recuperar no exterior do tanque, na poça junto à torneira de saída. Os peixes acabaram por dar mais luta, espadanando o que restava do seu ambiente natural até se imobilizarem, esfalfados, numa espécie de pego. Mesmo assim não foi fácil fazer a sua trasfega para os dois bidões que os esperavam atestados de água. Um mínimo safanão de barbatanas escorregadias, e era o bastante para se escaparem por entre os dedos. Depois veio a corrida contra o tempo, retirar as últimas lamas, iniciar o enchimento, garantir um mínimo de água navegável e devolver as criaturas sãs e salvas. Um dia depois, tanto quanto demora a encher o reservatório, viemos encontrar os nossos dezoito peixinhos da horta felicíssimos da vida, emborcando, a plenas guelras, uma água agora bem oxigenada e cheia de reflexos azuis. Tão apetecível, que dava vontade de um mergulho. De um mergulho a sério.       

"Estava logo o Tanque Grande, que lago se pudera chamar, pela muita água que em si encerra. Ele, de muita altura, colmado de muitos peixes de toda a sorte, com grossos barbos, em que os Senhores se recreavam das ginelas que pera ali corriam, com a pesca de cana, e com verem nadar nele, no tempo de Verão, muitos moços do Paço e daquela Vila, dando de cima dos arcos que cingia grandes margulhos, tomados de todo o alto. Socedia alguns anos ficar algum moço pelas custas afogado nele, por se embaraçarem, com os margulhos, nos limos, e não poderem tornar acima, e ter no meio um sorvidouro, ou caldeira. E com lhe defenderem não chegassem a ela, alguns mais ousados o faziam, e lá ficavam. E nem por isso deixava de concorrer muita gente a nadar nele, levando-os àquele desenfado também o interesse, porque os Senhores, aos que milhor margulhavam, lhe mandavam botar pelos criados seus tostões."
António de Oliveira Cadornega, Descrição da Villa Viçosa, 1640-1680.   


Dragando o fundo à procura de pedras.


As rãs pressentem que estão a ficar com pouco espaço de manobra.


A maré está a baixar: altura para começar a pescaria.


E o primeiro a sair na rifa é um pimpão.



Uma carpa sentindo a vida a andar para trás.




Este barbo também está a ver o caso mal parado.


Eis o atoleiro da situação.



Já fomos menos intocáveis do que agora.




Agora os peixes já vêm à mão, apesar dos golpes de barbatana.


A água está a ficar uma verdadeira sopa para esta rã.



Pazadas de lodo sem conto.


Já se vê a baldoza.


Percebe-se que os peixes venham à tona espreitar o desenvolvimento dos trabalhos de limpeza. Suspeita-se que lhes apeteça dar um sermão aos homens pela demora. 



Início do enchimento.


Finalmente, como peixes na água.

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