Finalmente, a viagem conduz-nos à cidade-jardim de Moura,
com os seus mais de mil pátios, quintais, hortas, poços e tanques de rega.
De entre as inúmeras manchas verdes que dão título à cidade, destacam-se as hortas do vale da ribeira de Brenhas, nas cercanias do Sete e Meio, rondadas dia e noite por rebanhos badalantes, caçadores de perdizes e apanhadores de espargos.
De todas as hortas-jardim capazes de deslumbrar, nenhuma iguala a que nos espera ao fundo da rua das Hortas, bem exposta ao sol e resguardada dos ventos dominantes, onde vicejam couves, alfaces, beringelas e demais verduras comestíveis.
De entre as inúmeras manchas verdes que dão título à cidade, destacam-se as hortas do vale da ribeira de Brenhas, nas cercanias do Sete e Meio, rondadas dia e noite por rebanhos badalantes, caçadores de perdizes e apanhadores de espargos.
De todas as hortas-jardim capazes de deslumbrar, nenhuma iguala a que nos espera ao fundo da rua das Hortas, bem exposta ao sol e resguardada dos ventos dominantes, onde vicejam couves, alfaces, beringelas e demais verduras comestíveis.
Dentro desse jardim, um outro se revela ao longo da álea plantada de romãzeiras em ordem e de ervas odoríferas em desalinho, que não
poupam nos seus perfumes e se desenvolvem em terraços a níveis diferentes
conforme a inclinação do talude, numa mistura de tamanhos, densidades e cores. Por
aqui podemos deambular de olhos fechados, como se jogássemos à cabra-cega dos aromas,
num passeio tranquilo e meditativo.
No final desse passeio-deambulato, existe um outro jardim, mais
secreto e refrescante que todos os outros, onde coabitam as plantas mais sensíveis ao calor e aridez. Esconde-se sob a figueira, cuja
folhagem impede o sol de ver o chão, à beira do tanque espelho de água, de que
se assenhorearam ninfas, nereides e alguns barbos e onde abeberam
andorinhas e morcegos em voos rasantes, sem lhes pedirem licença. Este é o mais
íntimo e reservado dos jardins, que se fecha ainda mais sobre si próprio, e que é a imagem de um paraíso prometido. Este é o jardim em que os desejos
despertam todos ao mesmo tempo a assediar-nos.
«Isaura, cidade dos mil poços, presume-se que se situe por
cima de um profundo lago subterrâneo. Por toda a parte onde os habitantes
escavem na terra longos furos verticais conseguem tirar água, e foi até aí e
não para além desses limites que se alargou a cidade: o seu perímetro
verdejante repete o das margens escuras do lago sepultado, uma paisagem
invisível condiciona a visível, tudo o que se move sob o sol é impelido pela
onda que bate encerrada sob o céu calcário da rocha.»
Italo Calvino, As cidades invisíveis, Editorial Teorema, 2002, p. 24.
Italo Calvino, As cidades invisíveis, Editorial Teorema, 2002, p. 24.