Qual laboratório de experiências e aprendizagens, a Horta Comunitária recebeu, há dias, em duas ocasiões, a visita de sessenta e quatro crianças do Centro Infantil Nossa Senhora do Carmo, entusiasmadas por participarem numa actividade pedagógica diferente, ao ar livre, que decorreu sob o signo das Plantas Aromáticas e Medicinais. Curiosas, traziam muitas perguntas sobre os segredos que se escondem ao longo da álea aromática, um jardim florido por estes dias, onde coabitam cerca de trinta espécies vegetais, entre tomilhos, mentas, salvas, alfazemas, alecrins... Referidas algumas das utilizações alimentares e medicinais de cada uma das plantas, passou-se a outras vantagens menos conhecidas, como, por exemplo, o seu contributo para evitar a perda de solo no talude da horta (controlo da erosão), para atrair insectos auxiliares na polinização e no controlo de pragas ou ainda para fixar outros animais amigos do hortelão, como batráquios, répteis, pequenos mamíferos e aves.
Os pequenos investigadores puderam constatar tudo isto mexendo na terra, abeirando-se das plantas, inalando os seus aromas, apreendendo as suas texturas, apreciando cada detalhe das suas folhas e flores com a ajuda de lupas, descobrindo ninhos de insectos e de aves suspensos nas ramarias ou surpreendendo lagartixas e sapos entre a vegetação mais rasteira.
No final, depois de espreitarem o tanque com peixes verdadeiros, todos estavam de acordo neste ponto: dá gosto aprender assim!
Os pequenos investigadores puderam constatar tudo isto mexendo na terra, abeirando-se das plantas, inalando os seus aromas, apreendendo as suas texturas, apreciando cada detalhe das suas folhas e flores com a ajuda de lupas, descobrindo ninhos de insectos e de aves suspensos nas ramarias ou surpreendendo lagartixas e sapos entre a vegetação mais rasteira.
No final, depois de espreitarem o tanque com peixes verdadeiros, todos estavam de acordo neste ponto: dá gosto aprender assim!
«Sim, é tempo: abram agora a porta envidraçada e entremos no Jardim. (Mas cautela, não se desfaça em pó.) O Jardim é imenso. Tem árvores descuidadas, vertiginosas, com ramarias quebradas, pendentes, canteiros silvestres, ervas e flores, tudo num abandono maravilhoso, e umas ruazinhas perdidas em curvas, com o cimento gretado e desnivelado, algumas empedradas ou de terra batida. Há uma cisterna - cuidado!, é profunda e enorme: por ela pode-se chegar talvez ao outro-lado-do-mundo. Tem um tampo redondo de tábuas, é como um terraço onde se pode bater com os pés (o que a gente faz sempre que está sozinho), com um postigo quadrado por onde não há o perigo de se cair lá dentro. Por cima, um arco de ferro enferrujado, com roldana e balde. Quando se entreabre o postigo - e é frequente não se poder resistir a trepar sub-repticiamente e espreitar - vê-se lá em baixo o negrume oleoso, onde se espelha um quadrado de céu com uma cabeça: a nossa. Então faz-se «Buh!» - e a cisterna acorda, responde com um ribombo cavernoso e húmido, que dá vontade ao mesmo tempo de fugir e de entrar. Depressa, depressa, ponham a tampa e desçam, que lá vem o marido-da-senhora-mestra!
Correm todos para o baloiço: é uma prancha grossa e polida do uso, suspensa de duas cordas que vêm duma altura desmedida, dentre as ramarias, do infinito, não se sabe donde. (...)
É sentado nesse balouço que ele gosta de escutar as vozes e olhar as árvores, às vezes de cabeça à banda, ou virada para baixo, para trás, num abandono tranquilo e solitário, a ver um mundo diferente do mundo real.»
José Rodrigues Miguéis, A Escola do Paraíso, Publicações Dom Quixote (1ª edição de bolso), 2003, pp. 48-50.