Verão rima com tomate e simplicidade na hora de preparar o repasto. Rima com saladas, gaspachos, tomatadas e outros exemplos de comidas frugais, leves, aromáticas e refrescantes da cozinha mediterrânica, cuja preparação está perfeitamente ao alcance de qualquer mortal que pretenda, de quando em vez, puxar dos galões culinários e fazer um brilharete junto de convidados ou convidadas especiais. Afinal, não é o povo que diz que "no tempo dos tomateiros não há ruins cozinheiros"? Ou numa outra versão recordada por Orlando Ribeiro, no seu Mediterrâneo - Ambiente e Tradição, mais dada a segundas leituras susceptíveis de fazerem corar algumas belfas que nem tomates maduros: "no tempo do tomate todas as cozinheiras são boas".
Sugestionados por tudo isto, por apetites estimulados pelo clima e que não seria muito arriscado o desafio culinário a que nos propunhamos, decidimos no outro dia rumar até à horta em busca de meia dúzia de tomates maduros para esta receita de gaspacho à moda alentejana:
"Numa terrina pisam-se os alhos, tomate pelado e flor de sal. Acrescenta-se o azeite, a água, o vinagre e o pimento e o pepino picados. Rectifica-se o sal. Na hora de servir, deita-se dentro do preparado pão cortado aos cubinhos e orégãos a gosto. Pode-se juntar cubos de gelo. Acompanha com peixe frito". (Aromas e Sabores - Comidas de Mértola - recolha realizada por alunos, professores e funcionários da Escola C+S de Mértola e coordenada por Nádia Torres, 1997).
Pois bem, foi como se todo o gelo do gaspacho tivesse desabado em cima de nós: nem seis, nem cinco, nem um só tomate viemos encontrar em condições. Logo agora que o gaspacho se tinha imposto como escolha definitiva de um almoço em que pretendíamos surpreender. Afinal, tomates muito bonitos e bem formados, mas...todos ainda pintados de verde! Isto é, sem aquele rubor característico dado pelo licopeno*.
"Numa terrina pisam-se os alhos, tomate pelado e flor de sal. Acrescenta-se o azeite, a água, o vinagre e o pimento e o pepino picados. Rectifica-se o sal. Na hora de servir, deita-se dentro do preparado pão cortado aos cubinhos e orégãos a gosto. Pode-se juntar cubos de gelo. Acompanha com peixe frito". (Aromas e Sabores - Comidas de Mértola - recolha realizada por alunos, professores e funcionários da Escola C+S de Mértola e coordenada por Nádia Torres, 1997).
Pois bem, foi como se todo o gelo do gaspacho tivesse desabado em cima de nós: nem seis, nem cinco, nem um só tomate viemos encontrar em condições. Logo agora que o gaspacho se tinha imposto como escolha definitiva de um almoço em que pretendíamos surpreender. Afinal, tomates muito bonitos e bem formados, mas...todos ainda pintados de verde! Isto é, sem aquele rubor característico dado pelo licopeno*.
O sr. António, um dos mais recentes zeladores da nossa horta e que nunca ouviu falar do licopeno, apareceu logo em nosso socorro tentando limitar os danos da situação com os seus vastos conhecimentos em matéria de desponta* e capação* de tomateiros, pepineiros, meloeiros e afins. Competências à espera de acreditações a que tem igualmente direito, que utilizou com sucesso em toda a sua vida de hortelão para apressar o amadurecimento dos respectivos frutos e garantir melhores colheitas, e que agora tinham o efeito de compensar em parte a nossa desilusão.
"-Todos estes olhinhos são cortos, está a ver?, para o tomateiro não se pôr com tanto viço e para o tomate ser mai grado e ficar maduro num instante. Deixe passar uns dez a quinze dias e pode ficar descansado que já tem tomates para o seu capacho".
Resignados - que remédio! -, demos tempo ao tempo e deixámos o sol e os truques do sr. António fazerem o seu curso. Finalmente, ontem fomos à horta para constatar, como São Tomé, que os tomates estão quase no ponto. Mal pode esperar esta sede de gaspacho com sabores e aromas da horta, porque o Verão não é eterno e porque há que aproveitar bem os momentos que sabem pela vida.
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*Licopeno - é um caratenóide antioxidante, de que o tomate é a melhor fonte, que garante a sua cor vermelha, e que, quando absorvido pelo organismo, ajuda a impedir e a reparar os danos causados às células pelos radicais livres, retardando o envelhecimento e actuando na prevenção de diferentes tipos de cancro, entre os quais o da próstata.
*Capação do tomateiro - designa a operação em que se retiram pequenos rebentos axiais (ladrões) que existem entre as folhas e o tronco central do tomateiro. Estes rebentos, porque consomem bastante seiva, limitam o desenvolvimento e amadurecimento dos tomates.
*Desponta do tomateiro - designa a operação, a realizar quando o tomateiro tiver produzido 6 ou 7 ramos com tomates, em que se corta o topo ou a extremidade da planta para parar o seu crescimento. Este tipo de poda ajuda a produzir tomates de boa qualidade, evitando, pelo contrário, a profusão de frutos de baixa qualidade e amadurecimento tardio.