A RUA DAS HORTAS EXISTE MESMO. FICA SITUADA EM MOURA, NO BAIRRO DO SETE E MEIO.
ESTE BLOGUE É O DIÁRIO DE BORDO DA HORTA COMUNITÁRIA AÍ EXISTENTE. INICIALMENTE ASSOCIADA A UM PROJECTO DE FORMAÇÃO PARA PÚBLICOS DESFAVORECIDOS, COMO ESPAÇO DA COMPONENTE TECNOLÓGICA DO CURSO, A HORTA ENCONTRA-SE AGORA NUMA SEGUNDA FASE. NESTE MOMENTO, ACOLHE ALGUNS DOS FORMANDOS QUE MOSTRARAM VONTADE EM PROSSEGUIR A ACTIVIDADE PARA A QUAL FORAM CAPACITADOS E ESTÁ ABERTA A OUTROS INTERESSADOS EM ACEDER AOS RESTANTES TALHÕES DEIXADOS LIVRES. UNS E OUTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA GESTÃO COMUNITÁRIA DA HORTA, MEDIANTE A OBSERVÂNCIA DE UM REGULAMENTO E CONTRATO DE UTILIZAÇÃO. ESTE PROJECTO CONTA COM A ORGANIZAÇÃO DA ADCMOURA EM PARCERIA COM A CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA, NÚCLEO LOCAL DE INSERÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL, EQUIPA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR PROTOCOLO DE MOURA E CENTRO DE EMPREGO DE MOURA. TAL COMO ATÉ AQUI, ESTE É TAMBÉM O ESPAÇO PARA FALAR DE REGENERAÇÃO URBANA, AGRICULTURA BIOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Hortas e alegretes

Na rua das Hortas, quem não tem horta caça com alegrete.


Alegrete de verão


Alegrete de inverno


(Duas traduções, a partir do grego, da mesma passagem da Odisseia, de Homero, inspirada nas hortas, pomares e alegretes do Mediterrâneo.)

Os jardins de Alcínoo

Fora do pátio, cerca das portas, um grande jardim
de quatro jeiras; cerca-o uma sebe a toda a volta.
Aí crescem altas árvores viçosas,
pereiras e romãzeiras, e macieiras de frutos luzidios,
doces figueiras e oliveiras frondosas.
Nunca o seu fruto se perde ou deixa de produzir,
quer seja inverno ou verão; duram sempre.
O Zéfiro, que sopra sempre, faz criar uns, e outros sazonar.
Uma pêra amadurece sobre outra, uma maçã sobre a maçã,
o cacho sobre o cacho, o figo sobre o figo.
Ali está plantada uma vinha muito fértil.
Num lado, num espaço de terreno liso,
está a secar ao sol, e colhem-se já os cachos,
e pisam-se outros. Em frente estão uvas verdes
que largam flor, outras começam a amadurecer.
No extremo do jardim, crescem alegretes cuidados,
com plantas de toda a espécie, todo o ano verdejantes.
Há também duas fontes; uma irriga o jardim todo;
outra vai passar sob o limiar do pátio,
a caminho do palácio altaneiro. É lá que os da cidade se abastecem.
Tais eram as dádivas esplêndidas dos deuses a Alcínoo.


Homero, Odisseia, Canto VII, 112-132, trad. Maria Helena da Rocha Pereira (1959)


Fora do pátio, começando junto às portas, estendia-se
o enorme pomar, com uma sebe de cada um dos lados.
Nele crescem altas árvores, muito frondosas,
pereiras, romãzeiras e macieiras de frutos brilhantes;
figueiras que davam figos doces e viçosas oliveiras.
Destas árvores não murcha o fruto, nem deixa de crescer
no inverno nem no verão, mas dura todo o ano.
Continuamente o Zéfiro faz crescer uns, amadurecendo outros.
A pêra amadurece sobre outra pêra; a maçã sobre outra maçã;
cacho de uvas sobre outro cacho; figo sobre figo.

Aí está também enraizada a vinha com muitas videiras:
parte dela é um local plano de temperatura amena,
seco pelo sol; na outra, homens apanham uvas.
Outras uvas são pisadas. À frente estão uvas verdes
que deixam cair a sua flor; outras se tornam escuras.

Junto à última fila da vinha crescem canteiros de flores
de toda a espécie, em maravilhosa abundância.
Há duas nascentes de água: uma espalha-se por todo
o jardim; do outro lado, a outra flui sob o limiar do pátio
em direcção ao alto palácio: dela tirava o povo a sua água.
Tais eram os belos dons dos deuses em casa de Alcínoo.



Homero, Odisseia, Canto VII, 112-132, trad. Frederiço Lourenço (2003)