A RUA DAS HORTAS EXISTE MESMO. FICA SITUADA EM MOURA, NO BAIRRO DO SETE E MEIO.
ESTE BLOGUE É O DIÁRIO DE BORDO DA HORTA COMUNITÁRIA AÍ EXISTENTE. INICIALMENTE ASSOCIADA A UM PROJECTO DE FORMAÇÃO PARA PÚBLICOS DESFAVORECIDOS, COMO ESPAÇO DA COMPONENTE TECNOLÓGICA DO CURSO, A HORTA ENCONTRA-SE AGORA NUMA SEGUNDA FASE. NESTE MOMENTO, ACOLHE ALGUNS DOS FORMANDOS QUE MOSTRARAM VONTADE EM PROSSEGUIR A ACTIVIDADE PARA A QUAL FORAM CAPACITADOS E ESTÁ ABERTA A OUTROS INTERESSADOS EM ACEDER AOS RESTANTES TALHÕES DEIXADOS LIVRES. UNS E OUTROS SÃO RESPONSÁVEIS PELA GESTÃO COMUNITÁRIA DA HORTA, MEDIANTE A OBSERVÂNCIA DE UM REGULAMENTO E CONTRATO DE UTILIZAÇÃO. ESTE PROJECTO CONTA COM A ORGANIZAÇÃO DA ADCMOURA EM PARCERIA COM A CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA, NÚCLEO LOCAL DE INSERÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL, EQUIPA TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO FAMILIAR PROTOCOLO DE MOURA E CENTRO DE EMPREGO DE MOURA. TAL COMO ATÉ AQUI, ESTE É TAMBÉM O ESPAÇO PARA FALAR DE REGENERAÇÃO URBANA, AGRICULTURA BIOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O muladar* da horta

*Muladar significa estrumeira, que por sua vez é sinónimo de esterqueiro, esterqueira, alforza, alfúgera, alfuja, alfuje, alfújera, alfurja, alfurje, aloque, bujinga, busilhão, cadoz, cagaçal, chafurda, chafurdeiro, chavascal, chiqueiro, cortelha, cortelho, esterquice, esterquilínio, lixeira, monturo, montureira, muradal, pocilga, volutabro (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).  


Ocupámos parte da manhã de quarta-feira a carregar e a descarregar uma carrada de estrume de cavalo proveniente do Centro Hípico do Cerro de Santo António. Para realizar a tarefa contámos com a preciosa colaboração de dois funcionários da Câmara Municipal de Moura que, com o tractor e atrelado que se vê na imagem, possibilitaram o transporte até à horta. Com este estrume de qualidade, a maior parte já curtido, recolhido no picadeiro e nas cavalariças, será certamente melhorada a estrutura do solo da horta assim como facilitada a alimentação dos seres microscópicos que produzem nutrientes para as plantas. Do estrume descarregado, o mais curtido foi espalhado nos talhões de cultivo, uma parte foi depositada e misturada no monte de folhas secas de oliveira, onde está instalada a unidade de compostagem, e a restante, menos curtida, ficou a aguardar na estrumeira. A sua maturação é importante para transformar elementos como o nitrogénio e o potássio em formas que as plantas possam utilizar. É por isso fundamental que o estrume esteja bem decomposto; caso contrário, poderemos queimar as plantas com o calor da fermentação. Em relação à compostagem, foram utilizadas as folhas e ramos de oliveira para criar a base da pilha, seguindo-se uma camada de estrume e de novo mais folhas e ramos, e assim sucessivamente até se atingir 1,30m de altura. Foi ainda utilizada relva proveniente dos espaços verdes geridos pela Câmara Municipal. Todo este material apresentava-se com humidade suficiente, identificada através da "técnica da mão".


Veja-se agora, a título de curiosidade, o modo com que se encarava a fertilização dos campos no Alentejo, no princípio do século XX (1903), pela pena de José da Silva Picão, na sua conhecida obra Através dos Campos - usos e costumes agrícolo-alentejanos (Publicações Dom Quixote, 1983):
"(...) Entre os preparos culturais, nenhum se patenteia mais vantajoso e eficaz do que o da estrumação e adubação das terras. A sua utilidade revela-se a cada passo; é tão conhecida, que não carece de demonstrações.
Há meio século, estrumava-se um terço dos terrenos que se estrumam na actualidade, donde se infere que também neste ponto a agricultura tem adiantado e progredido.
Nos tempos antigos e nas populações campónias, era corrente dizer-se que os estrumes escaldavam as terras, e gafavam de erva as searas. Fosse por isso ou por desleixo, as estrumeiras acumulavam-se e estragavam-se nos arrabaldes dos povoados, e até em alguns montes, durante anos, como coisa inútil ou de insignificante valor. Nas povoações ninguém vendia estercos, à falta de compradores. E quem tinha onde os aplicar, descuidava disso ou aplicava-os sem critério nem confiança, à parte excepções honrosas.(...)
(...) Nas aldeias, despertou agora o interesse e zelo pelo aproveitamento do esterco. A maioria dos moradores faz a sua estrumeira, boa ou reles, para a empregar por conta própria, ou para a vender a quem quer que seja.
Nas herdades observa-se zelo semelhante, muito maior que o de outros tempos, se bem que ainda se deparem desperdícios. A contrastar, há muitos lavradores que, além de aproveitarem rigorosamente os estrumes de sua lavoura, compram nas povoações próximas todo o que podem alcançar, a quinhentos, seiscentos e setecentos réis a carrada de muares. Nunca chega para as encomendas.
Os estrumes provêm das montureiras feitas com dejectos, desperdícios, detritos de toda a ordem, e dos excrementos e urinas dos rebanhos em bardos, apriscos, rociadas e malhadios.
ESTRUMEIRAS - Preparo bastante rudimentar. Umas voltas de vez em quando, revolvendo o estrume de cima para baixo, e eis tudo. Alguns lavradores tapam as estrumeiras com terra, preservando-as assim dos raios do sol e da chuva. Mas a maioria não se importa com isso.
Descobertas ou tapadas, em chegando o tempo próprio, o estrume remove-se para a terra a estercar, onde se distribui aos montões mais ou menos distanciados. Em seguida é espalhado à forquilha, mas sempre com acerto e igualdade, antes um pouco à toa, à míngua de critério de quem o distribui. Para evitar esse contra, há quem prefira espalhar à mão, a lanço, com mulheres, dirigidas por homem experiente. É melhor processo, posto que mais caro e moroso. Na hipótese de se usar, convém que os montículos fiquem maiores. As mulheres enchem neles os coxos, cestos ou gamelas que trazem consigo, e, depois, com o provimento à ilharga, seguem a espalhá-lo pela terra, como se andassem a semear.(...)"


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